quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


A Bienal de São Paulo

  1. A arte precisa ser bela para ser arte?
  2. Fragmentar um texto termina com a perda do sentido. Não se encontra o significado da arte com analises. No entanto, como construir é uma possibilidade de se fazer arte, a desconstrução também é. (a respeito de uma obra na qual o autor agrupa as palavras de um texto de Camus, elaborando em forma de verbetes, como em um dicionário, e depois, vai além, agrupando letra a letra)
  3. O que determina que uma obra seja classificada como obra de arte? O que a oficializa como arte? Para mim, o que me auxilia a criar ou conectar com um espaço interior.
  4. O vazio torna o exterior, bem como os limites, mais perceptíveis. O enquadramento, bem como o material, determina o que pode ser exposto ou realizado.
  5. Mais do mesmo, variações do mesmo, o poder do possível igual. A identidade e a individualidade na diferença quase imperceptível. No meio de 1800 quadros semelhantes, se impõe não ver cada um individualmente, mas perceber o mecanismo que os gerou, ou a força de existência material deles.
  6. Se agimos, nos perdemos na ação e não vemos o ser. Para ver o que é, temos de parar. Ser observador, ser testemunha. A presença do ser melhor se nota quando não se tem ação. Tornar-se lento, é uma forma de poder melhor captar o ser; bem o contrario do que fazemos habitualmente:correr.
  7. Uma câmara mostra algo quase homogêneo que não conseguimos identificar bem: piso, teto, areia, chão...não se vê forma, mas percebemos que a câmara está se deslocando por pequenas alterações de textura. Então, depois de algum tempo, a câmara se levanta e vemos uma orla de mar, depois montanhas, e o céu...horizontes, nova perspectiva. Do fechado em si, para a liberdade.
  8.  No mundo inteiro há parquinhos de diversões. Um artista fotografou 167 deles por países de todos os continentes. É universal, transcende línguas, raças, culturas, riqueza e pobreza com sua singeleza e simplicidade. O que há de comum? O movimento corporal. Todos nós temos um corpo e deslocar este corpo causa prazer. Escorregador, assim como tobogã, é gostoso!
  9. Domínios de conhecimento são gerados pela união de teorias e suas articulações. Nós escolhemos, nós construímos as imagens e crenças que vão compor nossa vida.
  10. Para saber onde queremos ir temos de saber de onde saímos e para onde vamos. Precisamos de mapas que nos guiem, para que não nos percamos.
  11. O que é o mundo? Natureza, minerais, vegetais e animais. Homem: organizar a infância, compor a própria historia, classificar as crenças. De tudo fazemos coleções. (Até mesmo guardamos tranqueiras que não servem para nada.)

Apreciação de uma Bienal do Mercosul

Em 2007, tive um renovado interesse por arte moderna. Tive a oportunidade de ir à Bienal do Mercosul. Proponho-me neste espaço tentar repartir com vocês o que lá aconteceu. A arte é simultaneamente comunicação e realização. Quando não podemos resolver algo no mundo das formas concretas ou na vida pessoal, o caminho de arte é uma possibilidade. É uma espécie de substituição do que poderia ser. Mais vai além da mera probabilidade; o mundo do imaginário e do símbolo, irrompe nas obras de arte. O sonho, a imaginação do artista,  arrasta consigo para outro espaço e tempo, o seu público. Sempre olhando as paredes, não vemos o teto. Vivemos nos espaços circunscritos das casas e locais de trabalho, na rotina. Qual é a surpresa, quando entramos em uma sala “vazia” e nada lá  acontece...ateé que nos damos conta, (se não sairmos frustrados e apressados antes) ao ver que a obra a ser observada, não está  na parede, mas sim no teto! 
   
Há um mundo real, que é a natureza, e um mundo construído pelo homem, em dois níveis: religião, obras de arte e ciência no patamar mais elevado e os produtos da tecnologia: pontes, casas, prédios e celular. Inicialmente ao se entrar no recinto de uma exposição, há de se ter um tempo para caminhar. Não é ver o que está exposto e partir às pressas para a próxima sala.Há que se ir sentindo, vendo, dando tempo da mente ir juntando o sensorial e o emocional. Pode ser que surja alguma lembrança, que aquilo te traga algum sentimento ou pensamento à mente. Pode ser também que você não perceba nada, sinta nada. Não espere ver o que esperava ver. Antes de permitir que a obra entre dentro da sua mente, você não sabe o que vai ver. É comum se ficar perguntando: o que é isto? Tal questionamento necessita de um deixar a percepção ocorrer e suspender por um momento o processo mental.  Deixe espaço para a obra  poder te transmitir a mensagem oculta. O que ela transmite a você? Sentir em si mesmo neste momento, e ser receptivo, é o ponto a ser atingido. Isto por si só já configura um ganho de ir a uma exposição de arte, pois propicia este exercício tão necessário: entrar em contato com os próprios sentimentos, e a partir daí, a construção do pensamento. Simultaneamente tão simples e tão complexo. É um ponto de partida para as descobertas. Descobrir: ver o que estava coberto.

 Estamos tão envolvidos na luta pelo trabalho de todo dia que não vemos que  seguramos em nossas mãos a ponta da corda. Só vemos o novelo, o nó emaranhado. O nó é enorme, e o homem que segura a corda, pequenino. Vemos o nó e não vemos o homem. Esta obra foi exposta da forma que a descrevo: um minúsculo homem segura em suas mãos uma enorme e pesada corda. Estamos tão envolvidos com rotina que não vemos o por do sol. As câmeras ocultas em lojas, aeroportos mostram o movimento das pessoas. Um segurança vira sua câmera, já não mais para o que deveria vigiar, e sim para observar o por do sol. Claro, ele foi demitido, mas seu vídeo foi exposto, e é de uma beleza que toca fundo, principalmente quando ficamos sabendo o que estava acontecendo. Não era só uma foto de por de sol. Era alguém que ao por do sol, todos os dias, por uns minutos, lembra-se de algo maior que ele mesmo, de um ritmo da natureza do qual nos distanciamos tanto, que nem percebemos mais. Perdemos a sensibilidade. O que parece fácil, é difícil. O que parece longe, pode ser mais perto. Para ver, é preciso procurar. Para entender, é necessário aceitar não saber. O que acontece quando se entra em uma sala de exposição e tudo que se vê são duas cordas finas de lã de cerca de meio centímetro de diâmetro, saindo o teto, em formato de U se cruzando e outras, verticais nas beiradas? Já não podemos circular livremente, somos tolhidos, as linhas causam uma delimitação do espaço da sala que é palpável, mais sólidas do que sua flexibilidade permitiria supor. É como se repentinamente o artista nos transformasse em perus, aves que podemos manter presas em um círculo traçado no chão. E assim é realizada uma máxima transformação do espaço, com um mínimo de substância. Esta distorção, é nossa mente, que é enganada.  E como confiamos na nossa mente racional! Chegamos a achar que é tudo que somos! Arte neste caso, nos auxilia na construção de um espaço diferenciado de percepção.

 Mais freqüentemente na arte moderna, o que se faz é uma descontrução. Edifícios são transformados em superposição de linhas verticais e planos; o dentro e o fora dos objetos são alterados. Além disto,nota-se em muitos trabalhos uma tentativa de quebrar a seqüência temporal ou a causa e efeito. Consegue-se este efeito com longas seqüências de vídeo, nas quais uma coisa sucede à outra, até que se dissolve, sem o grande acontecimento que todos aguardaram. Ou simplesmente alguém faz alguma coisa e não vemos propósito algum naquilo. Estamos muito acostumados que tudo tem de ter uma finalidade e um sentido. Procuramos causa e efeito como se tudo as tivesse. Qual o sentido da repetição do mesmo? Nossa sociedade é especializada atualmente na produção do mesmo e do descartável. Isto por um lado cria a enormidade e por outro, a banalidade. Mais do mesmo é só quantidade, não há qualidade. Não há espaço interior, não há espaço mental, só há forma, imagem, exterior. Tudo se volta para o visual apenas, desfibrado de seu conteúdo, de sua utilidade. Não se compra algo por que se precisa ou por que se é útil, mas por causa de “eu quero”; “todo mundo tem” ou similar. Faz se necessário buscar passagens em si e nos outros, que nos permitam outros espaços e novos tempos, para escapar da mesmice. O questionamento do que parece ser e no entanto não é. A expansão de uma forma ou objeto, leva à sua transformação, virando outra coisa. É a polaridade Yin/Yang causando o movimento e a transformação, presente em tudo que é vivo. Estar vivo, eis a questão. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PSICOLOGIA DO SELF IV PARTE


1.       FALHA BÁSICA – é a falta de coesão nas estruturas do Self, devido a uma dissociação nos polos do Self, ocasionando instabilidade nos objetivos pessoais e falta de rumo na vida  A saúde consistiria em um equilíbrio entre o Self Grandioso e a Imago Parental Idealizada (que são os pólos do Self, também denominado Self Bipolar), possibilitando a expressão dos talentos, capacidades e habilidades nas relações Selfobjetais e nas atitudes pessoais durante a vida. (Para definição dos termos desconhecidos, procure neste blog os textos sobre Psicologia do Self)
2.      QUADROS CLINICOS COMUNS EM PACIENTES NARCÍSICOS –Todos os sintomas listados abaixo são devidos a dificuldades na constituição do self, que apresenta a falhas básicas em sua estabilidade. São problemas sexuais como perda ou excesso de desejo sexual ou fantasias perversas. Problemas sociais, inibições ou exibicionismo; incapacidade ou falta de satisfação profissional ou nos relacionamentos amorosos. Incapacidade de relaxar, repousar e dormir em paz. Perda de humor, mal humor, falta de empatia com outros, desrespeito, descontrole emocional, instabilidade nos relacionamentos. Mentiras, delitos, preocupações hipocondríacas ou vegetativas, automutilações. Incapacidade de lidar com dificuldades ou desilusões. Sentimento de vazio, falta de objetivo, desinteresse, falta de prazer. Conduta de risco, promiscuidade sexual. O corpo reflete a fragmentação do self através de incoordenação motora, movimentos desajeitados, andar trôpego, tom de voz, pois há uma íntima conexão entre o self corporal e self nuclear.
3.      PERTURBAÇÕES NARCISICAS DA CONDUTA – apresentam sintomas mas graves, que afetam profundamente o relacionamento com as pessoas, como é o caso das perversões, delinqüência e violência extrema, abusos de drogas, tentavas de suicídio, transtorno alimentar, etc. É a passagem ao ato através de comportamentos impulsivos ou compulsivos com dificuldades de neutralizar as pulsões agressivas ou libidinais que determina a gravidade, bem como as conseqüências sociais ou para si mesma. Nestes casos há um alto nível de autoagressividade, que não encontra dentro do self condições de metabolizá-la. Como também nos mostra Kohut, é uma forma de se sentir que esta vivo, quando se tem uma vivencia interior de self fragmentado e correndo o risco de destruição. Estes comportamentos graves seriam deformações do desejo de sentir-se vivo e tentativas desesperadas de não enlouquecer (fragmentação do self).
4.      O NARCISISMO segue uma linha de desenvolvimento independente da libido objetal. As neuroses podem ser uma forma da pessoa lidar com alterações narcísicas mal resolvidas, de acordo com a Psicologia do Self. Estados de fragmentação do Self são cobertos por estruturas defensivas ou compensatórias. Estrutura compensatória é quando um pólo do self é danificado e a criança tem uma segunda oportunidade desenvolvendo o outro pólo ou estabelecendo relações com outros selfobjetos (pessoas significativas). A obtenção desta estrutura está na categoria de saúde mental (resiliência).
As estruturas compensatórias podem ter matizes neuróticos, psicóticos ou perversos, em geral, com a características de ser transitórios, mutantes, variando muito de acordo com o momento, e não são fixos, como acontecem quando são estruturais. Estrutura defensiva é, por exemplo, quando uma personalidade esquizóide emprega o distanciamento emocional para regular a angustia, ou quando uma personalidade paranóide emprega a hostilidade ou a desconfiança para se protegerem da fragmentação do self.
5.      AS TRANFORMAÇÕES NO NARCISISMO– A evolução da linha de desenvolvimento do narcisismo nos conduz ao uso de nossas capacidades e ao estabelecimento de relacionamentos com pessoas significativas e à satisfação.  O self grandioso e o exibicionismo arcaico se incorporam às ambições e propósitos da personalidade, e há um sentimento positivo de sustentação em direção ao sucesso, através de atividades adaptadas à realidade e socialmente aceitáveis. (Este é o pólo das ambições do self bipolar). O poder do self grandioso e da imago parental idealizada, anteriormente formidável e dominante na vida interior da pessoa, (agindo muitas vezes como um torturador interno), não o é mais, e agora, tem um sentido de proporção realista do que é possível fazer, e o self se liberta deste domínio imperioso. A imago parental idealizada, assim suavizada, passa a ter um papel apoiador e sustentador no desenvolvimento dos objetivos e ideais da pessoa. (Polo dos Ideais do Self Bipolar)
6.      A IMAGO PARENTAL IDEALIZADA – é neutralizada e torna-se parte de uma função de canalizar impulsos do self. A psique tem capacidade de utilizar as funções controladoras do self, fortalecendo a crença da pessoa em suas habilidades, propiciando uma fonte de aprovação interna. Geralmente os pais daqueles que vem a sofrer distúrbios do self, são isolados de seus filhos, e pouco respondem às necessidades afetivas deles, ou demonstram interesse em participar de suas brincadeiras infantis. Em outras ocasiões, parecem ser íntimos, mas é enganoso, pois apenas usam a criança como selfobjeto para suas necessidades, e não em uma relação objetal verdadeira com seus filhos.
Por isto quero dizer, uma relação onde estes são vistos pelo que são por si mesmos,  reconhecendo as necessidades emocionais deles, sem ter de ser como os pais desejariam que estes fossem. Esta falta de empatia conduz estas crianças a uma privação emocional, e da sadia experiência de seu exibicionismo natural. A busca de aprovação é frustrada, assim como suas necessidades de idealização e relação com um objeto admirado e amado... Tudo isto redunda em um fracasso de internalização de estruturas sadias do self, que não se torna apto para lidar com as complexas questões que a vida apresenta a quem vive neste mundo.
7.      EMPATIA – é necessário que o analista tenha capacidade de usar a atitude empática, dependendo da tarefa analítica do momento. Não conseguir empatizar, ou empatizar em excesso são prejudiciais, pois o analista deve poder observar esta posição de observador/participante através de uma capacidade de auto observação do que acontece no campo analítico. Apesar do desejo de estar em contato com paciente o analista pode sentir-se dolorosamente invadido pelos estados mentais do paciente (devido ao perigo de indiferenciação), podendo levar a possibilidade de passagem ao ato (acting-out), ou seja, pelo medo de submissão ou dominação, que haja descargas sexuais ou agressivas. Isto é mais provável de ocorrer, paradoxalmente, à medida que o analista vai se tornando mais consciente que tem emoções e reage ao analisando, e este vai sentindo que a proximidade do analista como uma ameaça. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A EXPERIÊNCIA EMOCIONAL ORGANIZADORA


Como pode o analista auxiliar o processo mental de seu paciente? A função de mentalizar, alfabetizar, qualquer outro nome que demos à ao processo de simbolizar os fenômenos da vida quotidiana, torna-se um fulcro -um ponto- em torno do qual gira o mundo. Temos três mundos: o mundo real, que se manifesta nos fenômenos; o mundo imaginário, dos nossos sonhos; e o mundo simbólico, que representa estes outros dois e na verdade faz a comunicação, dá o sentido aos outros mundos. De alguma forma, vivemos no mundo simbólico, sentimos e até vivemos nas palavras...(esquecendo que elas são apenas o dedo que aponta para a lua, e não a lua, um indicativo do que ser quer dizer e não o que se quer representar, a coisa em si).
O analista oferece ao analisando um setting, que é simultaneamente presente nestes três universos. Mas a comunicação se dá pela via simbólica. Mesmo o gestual é dotado de um sentido ou um significado, pois a comunicação pode ser verbal ou não verbal. O mundo interno e o externo, o objetivo e subjetivo, o eu e o outro, se encontram através da comunicação verbal e gestual, emocional e racional, que auxiliam a organizar um significado. A substância de que a realidade é formada nos escapa. A chamamos de caos, inconsciente ou marasmo, quando nos falta a compreensão que possa abarcar a pletora de acontecimentos que superpõem em infinitas direções.
 Para tanto, decompomos e classificamos esta complexidade na tentativa de compreendê-la. Mas ela continua a nos escapar. E daí nasce a ansiedade. Desespero diante do desconhecido. Mas por que não prazer, diante das novidades? Na verdade, o ser humano depara-se sempre diante do desconhecido, do incontrolável, daquilo que o supera: -O existir no mundo, as forças da natureza, os outros seres humanos, com suas infindáveis exigências em relação a nós... As forças do mercado, os impostos a pagar, a incerteza quanto à própria condição, podem levar o homem ao desequilíbrio.
O homem nasce muito desamparado e necessita de cuidados pela vida afora, senão não sobrevive. Inicialmente fisicamente e depois psicologicamente, necessita de apoio. E no afã de encontrar este apoio, que o auxilie a vencer o desamparo e o sentimento de solidão, suporta as piores condições, quando não encontra selfobjetos empáticos. Este é o nascedouro das deformidades de personalidade e das perversões. O sadomasoquismo, a agressão, a violência, tanto causada como sofrida, aqui tem sua fonte primordial.
Precisamos oferecer ao homem um lugar onde possa sentir-se seguro. Amado, acolhido e confortável. Este é um espaço funcional, como vamos chamá-lo aqui. Um espaço que contenha em si a capacidade de colocar para funcionar a mente do homem por  garantir de alguma forma sua segurança diante do desamparo. O analista é o fiador deste espaço. Tudo que ele tem a oferecer é sua fé, no seu método e por acreditar na capacidade de desenvolvimento do ser humano. Isto porque é de fato um ser humano como qualquer outro, sujeito às mesmas desgraças que seu paciente está sujeito. Mas ele se oferece para ser usado de um modo especial, a ocupar um lugar que não é seu, até que seu paciente suporte o caos do real. Até que este consiga mentalizar e simbolizar por si, se apoiará e modelará no vínculo empático que mantém com o analista, que acredita na capacidade de pensar de seu paciente. Em outras palavras, um selfobjeto apoiador e adequado, que restaura os traumas das relações pertubadas do passado.
O espaço funcional é um espaço que se utiliza provisoriamente até se conquistar o espaço aberto do universo e do mundo, é um pequeno mundo protegido. É o espaço que os pais fornecem aos filhos, onde as crianças exploram o mundo nas proximidades da mãe, mas mantendo nela seu ponto de referencia. O problema é que este espaço é virtual e não real. O analista o mantém sendo um selfobjeto responsivo, fornecendo o setting analítico para que se monte o espaço funcional e assim os fenômenos entre analista e analisando permanecem protegidos da dura realidade.
 O problema principal é que esta entra sem ser chamada, e aí acontecem os problemas, inevitáveis, por que a frustração mostra ao paciente que não há proteção real contra a solidão e o desamparo da condição humana. E tampouco que seu analista é perfeito. O próprio analista denuncia ao paciente suas tramas e envolvimentos que visam a dependência ou o controle do setting/analista. O paciente quer se apegar como um bebe à sua mãe, que quer cuidados ao chorar, satisfazer suas necessidades com a mãe/analista. O apego se dá pela crença na incapacidade de pensar e não acreditar em si mesmo. P
Para pensar precisamos de organizar nossa mente. Precisamos ter uma experiência emocional organizadora. Necessitamos de que um ser humano possa nos propiciar um local de crescimento protegido onde se possa tolerar o impacto da realidade. Só assim em vez de buscar o apego/controle, se poderá buscar livremente a relação com outro ser humano. No lugar de dependência ou abuso, onde há destruição da capacidade de pensar independente, haverá uma empatia nas relações, onde será possível uma experiência emocional organizadora, que facilitará a tolerância á frustração e ao desamparo. Nestas circunstâncias, ocorre então a possibilidade de um funcionamento mental diante do mundo como ele é, o mundo onde se vive na ação e onde se aprende com a experiência criadora a ser realizado e feliz.

A IDENTIDADE


Para ter identidade é necessário pensar ou apenas expressar aquilo que se é? Mas tal propósito não se consegue através do mero estudo da teoria ou leitura de livros. A análise pessoal pode auxiliar tal propósito. É necessário que o indivíduo observe, ele mesmo, se sua essência se expressa na pratica da vida pessoal e funcional. É necessário trabalhar com um maior contato emocional consigo e com o meio ambiente do que o habitual para atingir este objetivo, pois para isto, são necessárias condições apropriadas, nem sempre disponíveis.
Vivemos em uma sociedade que está pressionando cada pessoa ao seu limite máximo. Temos no meio social violência e empobrecimento cada vez mais ameaçador. Problemas de desemprego e falta de educação e oportunidades atingem as massas humanas. Ao mesmo tempo, valores éticos e morais entram em colapso. Nestas difíceis circunstâncias, os valores humanos e familiares, os vínculos, sofrem grande desgaste. A necessidade de sobreviver embrutece a maior parte das pessoas. Isto ocorre, pois a correria, o stress, a pressão para produzir, levam as pessoas além do que é saudável.
Como se ter condições para ser feliz em uma sociedade onde as oportunidades são disputadas pela competição e não pela cooperação? Onde há limitações sociais e econômicas, a disputa por um lugar ao sol se torna uma questão de vida ou morte, prejudicando convívio com os amigos e familiares. A educação pessoal, a cada jornada, procurando contato com a cultura que nos rodeia, em seus aspectos sociais, culturais e científicos, sem esquecer empresas, clubes e associações, pode ser um meio de aproximar as pessoas de suas reais necessidades humanas: ser reconhecida, ser amada e respeitada pelas pessoas significativas em sua vida, criando condições de romper com o que afasta a pessoa de expressar livremente sua essência, de forma criativa no mundo que habita.

A SÍNDROME DE BURN-OUT


Esgotamento emocional. Frieza nos contatos interpessoais. Falta de realização pessoal. Perda dos ideais. Esgotamento. Depressão. Desamparo. Irritabilidade. Isolamento. Necessidade de psicofarmacos ou álcool. Estimulantes. Perda da criatividade. Insônia. Dor lombar. Dificuldades na empatia.
 Tudo isto, e mais sintomas similares aos de angústia e depressão, caracteriza o burn-out do profissional, aquele ponto que a mente já “queimou”, e já não consegue mais digerir as imagens que registra. Chegou-se a um ponto onde estão acontecendo mais coisas que se pode administrar. Os fantasmas, o lado escuro ou fraco assusta-se nestas horas é necessário procurar por algo que possa guiar o entendimento.
A imaginação pode ser o maior inimigo, produzindo imagens assustadoras, mas igualmente produzir imagens boas. A intuição, este dom tão esquecido, pode mostrar um caminho que a especulação e o raciocínio não mais conduz. No trabalho geralmente ocorre um distanciamento, já que se manter uma intimidade exige disponibilidade. E nestas horas, ser neutro, sem ser insensível, é complicado. As fronteiras das relações humanas, para não serem rompidas através da violência, exige manter uma capacidade de tolerar a frustração.
As pessoas vão, outros ficam; uns fazem o que você quer, outros, nem tanto. A questão do relacionamento ideal ou de como deveria ser se apresenta, bem como ter sucesso profissional, ou que o desempenho individual seja valorizado pelos colegas de trabalho. O ideal da instituição e versus o ideal pessoal. Ser um profissional não é um ponto de chegada, não pode ser uma meta de vida. Não é só chegar. O que conta é o caminho que ser percorre cotidianamente. É o olhar mirando adiante que mantém o rumo certo. Os projetos impelem à frente. Temos de continuar sonhando. A realização é continuar o percurso, e expandir para novos espaços. O prazer vem de colocar em pratica os sonhos, não apenas de sonhá-los.
A realidade é mais complicada que as teorias. Por este motivo, há sempre novas teorias, correspondentes a novas observações e percepções.  A primeira, refere ao mundo exterior, a segunda, a mundo subjetivo. Tenta-se ter a resposta para tudo, explicar o incompreensível de nós e dos outros. Há uma busca permanente de soluções. Há uma necessidade de soluções enorme, enquanto que a capacidade real de resolução humana é limitada. Daí se começa a imaginar, sonhar, delirar por um lado. Fetichizamos as metas, isto é as transformamos em fim de linha, ponto de chegada. E aí, frustração. Impotência e falta de prazer. Para ter um baixo risco de burn-out, necessitamos de ter metas reais de vida e de trabalho. Devemos voltar a ser gente e poder ser nós mesmos. Ser um eu (self) real, e não a pessoa ideal, ou corresponder a um ideal social, que usurpa o centro de vida da pessoa.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

PSICOLOGIA DO SELF III PARTE


  1. OBJETIVO DO TRATAMENTO é proporcionar coesão e integração do self. Pacientes apáticos, desvitalizados, agitados ou hiperativos são aqueles que tiveram pouca empatia de seus selfobjetos em alguma fase de seu desenvolvimento. Geralmente buscam ser estimulados de diversas formas: drogas, álcool, esportes violentos ou arriscados, etc. Outros não têm metas na vida, não sabem o que querem fazer, andam errantes pelo mundo, tentam várias faculdades, mudam de cidade ou de relacionamento, na esperança de mudança. Só que procuram no lugar errado, isto é, fora de si mesmos. Falta-lhes sentido e direção na vida. Este tipo de situação decorre de falhas no desenvolvimento da estrutura descrita como superego e ideal de ego por Freud. Na Psicologia do Self, estes dois tipos de dificuldades nos introduzem no estudo do self bipolar. Resumidamente: é composto pelo self grandioso exibicionista e pela imago parental idealizada, que veremos mais adiante do que se trata.
2.      NARCISISMO: É definido como o amor pela imagem de si mesmo. É por ser uma imagem, é uma representação, e considerado, portanto, sem ligação objetal.  Kohut propõe o desenvolvimento de uma linhagem do narcisismo que dá origem ao Self, tanto quanto o desenvolvimento da libido objetal dará origem à estrutura do aparelho psíquico. O narcisismo é um fenômeno afetivo, representante de uma imagem de si, que é vivenciada dentro de si mesmo, estabelecida em relação com vínculos significativos , não tendo relação alguma com a pulsão ou com a teoria da libido.
3.      NARCISISMO PRIMÁRIO: Os objetos não são sentidos enquanto tais, a pulsão está dirigida pelo próprio ego, isto é, toda a libido volta para si mesmo, e vai carregando progressivamente as zonas erógenas (autoerotismo).  No começo o ego é acima de tudo corporal, pois psicologicamente está fusionado com a mãe (selfobjeto).
4.      NARCISISMO SECUNDÁRIO: é quando a libido pode ser dirigida pelo ego e assim começar a investir objetos e estabelecer relações objetais; ocorrendo a satisfação ou frustração que advém das vicissitudes nestas relações. As capacidades e habilidades pessoais e o reconhecimento social passam a ser fatores importantes na regulação da autoestima.
5.      A FIXAÇÃO DAS PULSÕES – ou deficiências egoícas não são primárias nem centrais como origem de psicopatologia. É o próprio Self fragmentado, debilitado, que na tentativa de sentir-se vivo, lança mão de mecanismos patológicos para sobreviver. Distúrbios pulsionais surgem quando o desenvolvimento do narcisismo não foi bem sucedido por falta de respostas empáticas e não estabelecimento de relação empática selfobjetail. A perturbação das pulsões é portanto secundária ao Self não coeso.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

MAIS NOÇÕES DA PSICOLOGIA DO SELF


  1. A INTERNALIZAÇÃO TRANSMUTADORA - as funções desempenhadas pelos selfobjetos necessitam ser internalizadas para a cristalização do self nuclear. Identificação é o mecanismo pelo qual um sujeito assimila um aspecto, um atributo do outro e se transforma, segundo o modelo deste outro. È o mecanismo pelo qual a personalidade se constitui. O termo introjeção está intimamente relacionado à identificação e se refere a passar de fora para dentro do self, objetos e qualidades. Na obra de Kohut se usa o termo internalização transmutadora, para designar a apropriação destas vivencias com selfobjetos apropriados, que então são transformadas em funções do self em “restauração”. (Este é outro termo técnico da Psicologia do Self).
  2. OBJETOS DO SELF OU SELFOBJETOS- No jargão da psicanálise, objeto se refere sempre ao outro, a quem não é o sujeito da relação. Objetos do self são aqueles que sentimos como parte de nosso self, tanto quanto uma parte de nosso próprio corpo. Fazem parte de nós, não são reconhecidos como sendo “outro”. O controle que esperamos alcançar sobre um selfobjeto,  é portanto igual ao que esperamos obter por nossa própria mente e corpo. Não há um reconhecimento do selfobjeto enquanto uma pessoa autônoma, apesar de ser externo, pois a libido narcísica está investida neles. Implicito no conceito está a fusão primitiva com os primeiros objetos com os quais nos relacionamos, não havendo ainda a diferenciação entre eu e outro.
  3. SELFOBJETO EMPÁTICO - É aquele que se deixa idealizar, ou que reflete a grandiosidade e permite o exibicionismo natural da criança, a fim de permitir a frustração ótima e a conseqüente internalização transmutadora. Disto resulta a progressiva autonomia da pessoa, através da desidealização do objeto do self, e o começo do funcionamento das estruturas do self da pessoa, que assumem então as funções selfobjetais (exercidas desde fora do self). O self exibicionista da criança, encontrando aceitação dos pais ou substitutos, dá origem a um núcleo de aceitação de si mesmo e autoconfiança. Decorre a autoestima que formará uma capacidade de fortaleza interior nos momentos de dificuldade, bem como a capacidade de se acalmar ou de ter serenidade na adversidade.
  4. FORÇA E FRAQUEZA DO SELF - são inatas em parte, devendo levar em conta múltiplos fatores etiológicos ou causais, e não apenas acidentes isolados na vida da criança. O efeito de traumas específicos só pode ser entendido quando se levam em conta as vulnerabilidades pessoais e a multideterminação das causas. Por exemplo, uma perda parental precoce pode levar uma criança tanto à desestruturação como uma antecipação do desenvolvimento do self, na dependência dos fatores acima mencionados, A relação com selfobjetos sadios capazes de corresponder empaticamente à criança ajuda esta a atravessar o período edípico em uma situação ótima. O contrario disto, leva ao enfraquecimento do self, dependência e falta de coesão da identidade do self.
  5. A ANGÚSTIA MAIS PROFUNDA - não é a de castração, como vemos na teoria freudiana mais divulgada, e sim a de desintegração do self. No mito de Édipo, ele foi abandonado pelos pais para morrer, contou com a sorte para viver.A fase edipiana não é uma patologia, mas um estado normal do desenvolvimento humano. Mas relações bem sucedidas há estabelecimento de uma relação de amor entre pais e filhos, com confiança e compreensão nas relações selfobjetais. Sómente naquelas que fracassaram é que surgem as patologias conhecidas como edípicas.
  6. PULSÕES E ÉDIPO - Um self pouco desenvolvido ou coeso, com relações selfobjetais fracassadas, é um campo fértil para o crescimento de psicopatologias, como perversões, pertubações nas pulsões e dos relacionamentos e incapacidade produtiva. Estas vem na esteira de relações selfobjetais frustradoras,  não empáticas, que não deram chance à criança de acreditar em si mesma e ter um sentimento de estar viva. Passa então, através dos sintomas patológicos, na verdade, a buscar uma forma de diminuir a angustia de destruição e sentir que está vivo.
  7. DESINTEGRAÇÃO DO SELF - se manifesta por angústia, confusão, atordoamento, supersensibilidade à rejeição, hipocondria e depressão, com grande pertubação da autoestima. Geralmente isto ocorre após um grande trauma, quando nos desapontamos conosco mesmo ou com as figuras importantes em nossa vida (os selfobjetos não cessam que ser necessários na vida adulta conforme a Psicologia do Self sempre necessitamos de objetos responsivos e acolhedores). Os pacientes narcísicos são mais vulneráveis ao stress interpessoal e tendem a reagir com fragmentação do self aos traumas na relação empática, por pequenos que sejam.

domingo, 26 de agosto de 2012

PSICOLOGIA DO SELF



“A essência da cura analítica consiste em identificar e buscar objetos do self apropriados, tanto espelhantes quanto idealizáveis, e ter ressonância empática e ser apoiado por eles”.
“A cura é o caminho de empatia para a sintonia entre o self e os selfobjetos”
                                    Heinz Kohut


A psicologia psicanalítica do self foi formulada pelo psicanalista vienense Heinz Kohut, que emigrou antes da guerra para os Estados Unidos. Na cidade de Chicago, na época estavam Franz Alexander e Karen Horney, entre outros grandes analistas.
Com seu trabalho clínico, modificou e ampliou vários conceitos da psicanálise entre eles: o conceito de narcisismo, de empatia, de Édipo, de transferência e de cura analítica. Sua originalidade é incontestável, na forma e na conceituação, sendo seus trabalhos integrados clinica e teoricamente, com muita inspiração.
Seu trabalho nos faz ver a psicanálise sob um novo ângulo, a rever nossa experiência analítica, reexaminando a teoria da técnica e ter uma posição dialética sobre a teoria clássica de pulsão/defesa/conflito. Isto acontece pois a representação do self, e o olhar voltado sobre este “si mesmo”, passa a ser um ponto de observação central para o analista do self.
O homem não é para Kohut um ser conflituado, um joquete de pulsões instintivas, não tem um programa a ser repetido compulsivamente- como para Freud.
 É um ser que tem um destino, um programa de vida, um self nuclear que procura realizar-se e integrar-se. As patologias são compreendidas como falhas ou fracassos neste projeto de desenvolvimento do self, ou de si mesmo, e não apenas defeitos de estrutura, são mais ausência de função por falta de selfobjetos adequados. É portanto uma teoria muito mais generosa para com as dificuldades do ser humano que a Psicologia do Ego, baseada em pulsão/ conflito/ defesa.Vamos definir agora alguns conceitos fundamentais, de forma resumida:
  1. O QUE É SELF? É um conteúdo do aparelho psíquico, do qual faz parte aspectos conscientes e inconscientes de id, ego e superego. É constituído pela internalização de certas relações selfobjetais, com objetos reais (pai, mãe, avós, etc) É o núcleo operacional de nossa personalidade. O self começa a se tornar operacional como resultado da interação entre a dotação inata da personalidade individual e as respostas e relações com os objetos do self.
Outra forma de dizer a mesma coisa, é que com a divisão feita por Freud em três partes do aparelho psíquico, id, ego e superego, faltou uma parte que expressasse o ser humano inteiro; e é exatamente este “ser inteiro” que visa o termo “self”.
  1. A CURA - A Psicologia do Self não vê tornar consciente o inconsciente como a essência do processo analítico, quer dizer, não é a expansão do domínio do ego a tarefa fundamental, se bem que ela costuma acontecer.
  2. O que é importante então? Atributos como capacidade de auto-apaziguamento, o senso de continuidade do self no tempo e o papel do objeto do self em proporcionar estes atributos são valorizados. O processo de cura visa a analise das defesas e o desdobrar das transferências, e por fim, um caminho de empatia, de trocas e reconhecimento entre self e objeto de self em níveis maduros. A aquisição gradual de contato empático, de sintonia com objetos maduros do self, constitui a essência da cura analítica. Esta nova forma de encontro entre selves, ocupa agora o lugar das formas arcaicas de relacionamento. (Dependência, submissão, fusão, dominação, etc). Também se pode entender como encontrar a própria identidade, individualidade, autonomia, liberdade de ser o que é, estando em condições de estar só ou acompanhado, sem necessidade de usar o outro como objeto do self. (isto vai ser explicado mais adiante)   
  3. A EMPATIA - O analista deve resistir á tentação de enfiar sua compreensão do paciente nos moldes teóricos de sua preferência, até haver compreendido a essência da necessidade do paciente.... e só então transmitir sua compreensão. Empatia e introspecção são os instrumentos fundamentais do analista do self e delimitam um campo analítico de observação, através da capacidade de penetrar com o sentimento e o pensamento na vida interior de outra pessoa.
  4.  A FRUSTRAÇÃO ÓTIMA - Por melhor que seja a mãe, ou o analista- selfobjetos por excelência- haverá deficiências de cuidados, que propiciarão lentamente a substituição de selfobjetos por funções do self. O resultado final é um self operacionalmente autônomo. A desilusão gradual dá tempo da criança ou paciente ir desenvolvendo seu self pessoal.
  5.  Tanto excesso quanto falta de cuidados causam problemas e deficiências nas estruturas do aparelho psíquico. O conceito de frustração ótima é a pedra angular da teoria de cura da psicologia do self, e refere-se ao momento que o analista comunica uma compreensão razoavelmente precisa de uma experiência transferencial, geralmente devido a alguma expectativa frustrada do paciente em relação ao analista. A comunicação pelo analista de sua compreensão é otimamente frustrante. É frustante por que o analista não age de acordo com a necessidade do paciente, mas é ótima pois há reconhecimento e compreensão da necessidade. O vínculo empático se que estabelece entre paciente e analista substitui o atendimento da necessidade do paciente.  Obs. Os termos objetos do self e selfobjetos são praticamente sinônimos, os detalhes ficam para outro momento.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

AONDE VIVE O HOMEM ?



 No espaço amplo do pantanal, dos cerrados? nas capitais, nas cidades? Homem rural, homem urbano... homem mental, animal, sentimental... Há a necessidade de construir um local onde possa desenvolver-se, humanizar-se. Um lugar, em oposição a um espaço. Um lugar que possa conter, ou melhor acolher. Uma caverna, um ninho onde desenvolver.  Um continente é muito vasto para um quem está sendo gerado. O primeiro nascimento é físico, o segundo, psíquico. No primeiro, a parteira, no segundo, o analista. Um lugar na cidade pode conter um naco de natureza. Talvez um pequeno jardim onde tenhamos uma palmeira. Em contraponto, podemos levar um livro, ou quem sabe até um computador para o mato, e lá ter condições de escrever uma monografia. Um homem está onde está sua mente e seu coração.
O corpo, movimento e o agir por um lado; o pensar, falar, significar por outro. Entre eles, o som, o fonema. Frases que ouço com freqüência :“Não sei o que falar, Dr.”; “Vir aqui e falar não adianta nada”; “O que a gente vai fazer? Só falar...”ou então: “Falar não resolve nada...”
Escuto também: “Já estou me sentindo melhor só de ter falado isto para você.” Além do som da fala, como portador de sentido, existe um outro, de contato com outro ser humano, de beleza e de presença. É como canto da mãe para o seu bebê. Os ruídos domésticos, a água que escorre no riacho, o latido do cachorro. Eles criam um ambiente, compõem um lugar, um nicho, onde nos sentimos em casa, um sentido de pertencer. O som exprime o que ainda não encontrou significação dentro de nós. 

PERCEPÇÕES



Somos treinados para perceber somente aquilo que nos foi ensinado. Chegamos ao ponto de não ver aquilo que está fora de nossa visão de mundo. Nossa percepção se torna fixa e enxergamos o mundo de mesma forma todos os dias. Buscamos uma mudança nesta rotina, porem a mascara está tão colada em nossos rostos que não conseguimos mais retira-la.
O ego é que faz isto. Ele não é o que nos somos, não somos o ego. Ele é apenas a maquina registradora, a memória, as lembranças...Precisamos desligar o ego. Mas para isto é necessário abandonar a crença que ele é que vai cuidar de nós, e sem ele estamos perdidos, sem respostas e soluções para os problemas.
Precisamos recuperar nossa sensibilidade, nossa força de ver o novo. Mas estamos cegos para tudo aquilo que não se encaixa no que nosso ego foi preparado. Ele é como uma continuação de nossos antepassados, especialmente nossos pais.
Vamos assumir a responsabilidade pelo aquilo que pensamos e fazemos. Vamos aprender a não temer nossos sentimentos e fugir ou ser levado por eles como uma folha ao vento. Devemos agir, escolher, e decidir o que fazer. Colocada esta meta, agora mãos à obra.

TREINAMENTO AUTÓGENO


TREINAMENTO AUTÓGENO - O Repouso Psicossomático

                                               Dr. Paulo Borges


É um treinamento que tem origem a partir de si mesmo. Isto quer dizer que a partir de exercícios focados nas percepções do corpo, vamos nos treinar para alcançar um estado de equilíbrio,tanto físico quanto emocional. Vamos aprender a desligar e relaxar.

Este treinamento permite a auto-sedação ou tranquilização, o controle de situações emocionais, o desenvolvimento da própria capacidade de acalmar-se, a recuperação do desgaste e do stress, a modificação das próprias senso-percepções. Além disto favorece o desenvolvimento da persistência, do ritmo e do autodomínio. Este processo de aprendizagem auxilia na regulação vasomotora, controle de ansiedade, introspecção de si mesmo e afloramento de memórias.

A base do treinamento é o relaxamento físico e mental. O relaxamento leva a uma série de modificações fisiológicas, como diminuição do tônus muscular, da freqüência cardíaca e respiratória. Há redução do metabolismo e da atividade elétrica de nosso cérebro, surgindo ondas lentas (alfa e teta). Há uma redução natural da atividade do sistema nervoso simpático, sem necessidade de recorrer a medicações.

O estado de calma não pode alcançado através do esforço! Deixe ir surgindo uma atitude passiva, observando o corpo e as sensações que surgem na mente sem usar a vontade para alcançar o objetivo. Devemos aprender a ser expectador de nós mesmos, como se víssemos nosso corpo a partir de fora e também dentro.

A força de vontade deve ser utilizada somente para duas ou três vezes ao dia lembrar de fazer o treinamento. Depois a deixe de lado e faça por 10 ou 15 minutos o treino. Só passe para a fase seguinte depois de ter treinado pelo menos duas semanas e ter dominado a fase anterior. Agora, deitado ou sentada confortavelmente, em um local silencioso, com a mente neste estado de entrega passiva, vamos fazer o primeiro exercício.


1. Exercício do Peso

Feche os olhos lentamente neste estado passivo em que se colocou. Comece a sentir peso no braço direito e diga para si mesma a formula:
 “Braço direito pesado” comece perceber o peso do braço solto. É importante que você Rb ealmente sinta o peso, e não apenas “pense” na palavra peso. Repita 3 a 5 vezes vagarosamente.
 Alcançado esta etapa, de sentir o peso, repita mentalmente:
  “Eu estou em Paz” ou “Eu vou descansar” conforme preferir.

Agora, você pode passar a usar estas mesmas fórmulas para o restante do corpo:
Braço esquerdo, e então ambos os braços; perna direita, perna esquerda, ambas as pernas, e então corpo pesado. Descanse um pouco.
Para terminar, faça a retomada, que consiste em respirar mais profundamente, dobrar os braços energicamente, mexer as pernas e abrir os olhos. Pronto!
 


2. Exercício do Calor

Depois de relaxar os músculos com o treino anterior, com o treino do peso, passaremos a relaxamento do sistema vascular, através do exercício do calor. O processo é idêntico ao exercício anterior, é uma continuação dele, da seguinte forma: concentramo-nos novamente no braço direito e procuramos passivamente sentir o calor. Na seqüência vamos generalizando para todo o corpo.

Então a seqüência do exercício fica assim: satisfeita a regra do ambiente tranqüilo, do vestuário que não aperta, na posição deitada ou sentada, olhos fechados, em estado de calma, realizamos o exercício 1, que consiste em sentir peso da forma descrita.

Terminada esta etapa, imediatamente voltamos ao braço direito e recomeçamos com a formula, que agora fica assim: “Braço direito quente”, que é repetido 3 a 5 vezes, e então mentalmente repetimos: “Eu estou em paz, eu vou descansar”.

Uma vez alcançada a sensação de calor, passamos ao braço esquerdo e mentalizamos as formulas. Generalizamos então para ambos os braços, e ambas as pernas e o corpo, até sentir realmente o calor e a calma. Repousamos alguns minutos e então fazemos os exercícios de retomada, isto é, respirar fundo, mexer braços e pernas e abrir os olhos.

Se a sensação de calor for demais, devido ao nosso clima tropical, podemos adotar “corpo agradavelmente quente”, ou “ temperatura do corpo agradável”, como alternativa. Para facilitar alcançar a sensação, podemos imaginar nosso corpo mergulhado em água morna.

Com este exercício pretendemos melhorar nossa circulação sanguínea, melhorando o fluxo de sangue por todo o corpo, através de uma vasodilatação mediada pelo sistema nervoso autônomo.


3. Exercício da Respiração

A respiração é a base da vida, e está profundamente ligada às nossas emoções. Não devemos influir no ritmo da respiração, apenas observar a inspiração e a expiração em seu ritmo natural. A fórmula a ser repetida, após ter alcançado as etapas anteriores, é: “A respiração é calma” e depois, quando ver que está mais relaxado, “A respiração é calma e regular”. Não se impor um estado artificial de calma, mas realmente ir deixando as preocupações, e tudo que acontecer está certo, até que chegue ao ponto de sentir “É meu corpo que respira”, indicando que você se tornou observadora de seu próprio corpo. Continue respirando calmamente, e repetindo as formulas “A respiração é calma, regular” e “Estou perfeitamente calmo e relaxado”. Conclua o exercício como de costume, isto é, mexendo as mãos, pés e depois abra os olhos (fase de retomada)


4. Exercício do Coração

Após ter alcançado as etapas anteriores, vamos continuar nosso treinamento com esta quarta fase. Como de hábito, escolha um local tranqüilo, solte a roupa se estiver apertada e deite-se em uma posição confortável. Feche os olhos. Fique tranqüila e comece o exercício do peso, depois do calor e então o da respiração. Continue então, prestando atenção na região de seu coração, e se desejar, pouse suavemente a mão na região do coração e diga para si mesma “Meu coração bate calmo” diversas vezes ou então “Meu coração bate calmo e regular”. Então repetimos a formula “Estou perfeitamente calmo e relaxado”.
O coração geralmente é sentido como um lugar onde as emoções se refletem imediatamente. Com este estado de calma induzido através do treinamento autógeno, procuramos influenciar nossa mente e nosso corpo em conjunto para entrar em um estado de tranqüilidade, calma e passividade, onde nosso eu não faz esforço algum, apenas observa o corpo, inicialmente a sensação de peso do corpo é conscientizada, depois o calor corporal, então a  respiração que entra e sai, nutrindo todas as células e então chegamos ao coração. 
O exercício termina com a fase de retomada habitual.


5. Exercício do Plexo Solar

O plexo está localizado entre o umbigo e as costelas logo acima.  Repetimos a formula, agora dizendo “Plexo solar quente”, ou “Plexo solar irradiando calor” por 4-5 vezes. Nesta região estão localizados os gânglios celíacos, de onde partem fibras nervosas autônomas que inervam diversas vísceras da região epigástrica, como estomago, fígado, pâncreas, baço, rins, glândulas suprarenais e partes do intestino. Logo se pode notar que o equilíbrio funcional simpático/parassimpático, é fundamental para o perfeito funcionamento destes órgãos.   
Esta quinta parte vem logo na seqüência das anteriores, só que em lugar de encerrarmos o exercício no coração, damos agora continuação, passando a sentir a região abdominal referida.
Na seqüência, dizemos “Estou perfeitamente calmo”, ou “Eu estou em paz, eu vou descansar”. Pode ser de auxílio nesta fase colocar uma bolsa de áqua quente sobre o abdomen, o que traz muito bem estar. Podemos então dizer “Abdomen quente”.
É importante ressaltar que podemos visualizar imagens que nos auxiliem a entrar neste estado, como por exemplo imaginar-se perto de uma lareira, ou tomando banho de sol na praia.
O exercício termina com a retomada, como já descrito anteriormente.


6. Exercício da Fronte

Com este exercício concluímos o treinamento autógeno. Com os exercícios anteriores nosso corpo foi ficando agradavelmente pesado e quente, a respiração e o coração ficaram regulares e suaves, sentimos uma agradável sensação de calor no abdômen e nosso corpo repousou, eliminando toda a tensão muscular e psicológica. Agora percebemos uma separação entre corpo pesado e cabeça leve, assim dizemos “Minha fronte está fresca” ou “Minha cabeça está leve”. Repetimos por 4-5 vezes e então “Eu estou perfeitamente calmo” ou “Estou em paz, vou descansar”.
Não se deve pensar em cabeça pesada, e sim leve, não é quente nem gelada, e sim fresca. “Minha fronte está agradavelmente fresca”, e podemos imaginar uma suave brisa, ou mesmo colocar um algodão umedecido nos olhos para auxiliar o relaxamento.
O exercício termina com a retomada, como já descrito anteriormente.

terça-feira, 31 de julho de 2012

A CORRERIA DO DIA A DIA

Gostaria de fazer comentários sobre a correria em que se transformou a vida moderna. O ritmo de vida, que não condiz com a fisiologia e as necessidades humanas. A manutenção de um corpo e mente saudaveis é incompatível com nosso modo de vida ocidental. O resultado de noites mal dormidas, excesso de café e álcool, açúcar, frituras e sedentarismo, é uma geração de obesos, diabéticos e hipertensos no plano físico. Emocionalmente a tristeza, a irritação, o cansaço, insatisfação tornaram-se queixas comuns.
Nas lojas, bancos e repartições, as noticias que tenho através de meus pacientes é que há muita pressão para cumprimento de metas, ou que se venda mais, produza mais. Não posso deixar de comentar que o clima no ambiente de trabalho não está bom. Anda sujeito a muitas intempéries, e as pessoas não se sentem chamadas a participar dos objetivos, e sim pressionadas. Isto pois que não há um compartilhamento de idéias e sugestões, devendo as pessoas ser apenas executoras. Isto geralmente é desmotivante para a maior parte das pessoas, retirando o significado do trabalho e o transformando em algo sem interesse pessoal.
As pessoas perderam a dimensão do gostar de fazer. Entre outros fatores, há um excesso de trabalho, e de exigências, burocracias, hierarquias. Talvez minha amostra não seja representativa, pois é dos que adoecem. Mas eles não são poucos, e mostram pontos da vida moderna que necessitam ser modificados para que os outros não adoeçam também. Nosso organismo é muito adaptável, mas tem um limite. Geralmente após um ano ou dois, a maior parte das pessoas submetidas ao stress começam a ter queixas de qualquer tipo. Geralmente cansaço, irritação, mal-estar, dor de cabeça e sono ruim. Quando vão ao médico e tem algum problema, parece que encontraram a explicação. Mas a grande parte sai com a resposta que não tem nada, e com uma recomendação de fazer esporte, relaxar e ter lazer. Vejo até pessoas que não se conformam com os resultados negativos de seus exames. Ora, o stress, a tristeza, a raiva não aparecem em RX ou exames de sangue. E não são poucas as pessoas que buscam nestes exames uma explicação para seus males!
Temos de nos lembrar que não somos apenas corpo físico. Como seres humanos, temos- deveríamos ter consciência- de nossas emoções e do que sentimos. Quanto algo nos atormenta, o melhor que temos a fazer é reconhecer o problema e tentar remedia-lo. Se a perna quebrou, o tratamento é engessar, mas se o coração partiu... como engessar o coração?Mas é isto que as pessoas fazem. Se o coração faz sofrer, se alguém magoou, a primeira providencia é não ver, ou fazer de conta que não sentiu! Um dia, um mês... e o tempo passa e vai cicatrizando as feridas. Mas chega uma hora, que é tanta coisa guardada, que explode.  A manifestação pode vir como doença física ou stress psicológico. Alguns médicos encaminham ao psiquiatra, e ouvem de seus pacientes “mas eu não sou louco, Dr. !”. A imagem que se tem da psiquiatria ainda é esta para muitas pessoas. Infelizmente isto custa a elas uma vida infeliz, sofrida, quando poderia ser remediada em muitas coisas: bastaria marcar uma consulta psiquiátrica e dar a si mesmo a oportunidade de ser feliz!  

terça-feira, 13 de março de 2012

O EU E O CORPO

Neste mundo de dualidades, até mesmo a consciência foi dividida, isto é separada em consciente e inconsciente. A consciência neste mundo é corporificada, não existe sem estar em relação com um corpo. Além do corpo, da consciência, temos também o eu, o ego, o self, isto é, o que não é outro. O ego,  o que achamos ser nós mesmos,  é um programa preparado pela sociedade, pelos pais, por nossas percepções corretas ou errôneas. Em teoria pelo menos, o ego pode ser mudado, a mudança psíquica é possível em principio. Mas nosso problema, no mundo de hoje, não é somente discutir se dá para fazer mudanças psíquicas, e sim se o ego existe, se sua existência é real, ou temos este tempo todo discutido sobre algo que ouvimos dizer que deveria existir.
Qual a relação entre o ego e o corpo? É o ego antes de tudo corporal como diz Freud ou ele é uma camisa de força sobre o corpo, que sofre com suas influencias e tensões? Quando à existência do corpo, esta não discute, mas vou discutir aqui a existência do ego. Se o ego for antes de tudo corporal, qual a relação do inconsciente com o corporal?  Conseguimos adquirir consciência tornando-nos conscientes do corpo?  Seria a consciência antes de tudo corporal?
È difícil imaginar o que sobra como sendo “eu” após retirar a influencia cultural e a educação que incide sobre a pessoa. O ego é o resultado desta programação, através de um processo de identificações com os pais e a família. Retirado estes modelos, o que resta de “eu”? Da fonte límpida de nossa experiência e vivencia pessoal, no tríplice aspecto físico-emocional-mental,deveria jorrar a nascente do nosso verdadeiro eu.  Mas esta fonte anda atrofiada, quase nada dela nasce, pois pouquíssimo é efetivamente transformado em idéias próprias. Já foi descrito por vários autores os nefastos efeitos da sociedade de massa sobre os seres humanos.
A maior parte do que chamo “eu” é formado de pensamentos que não são nossos, sentimentos gerados no calor das sensações; outra parte pela autoridade de quem falou e outro tanto por ouvirmos dizer-e tudo isto aceita sem maior reflexão. Chega-se até ao absurdo de acreditar por que foi o outro que disse, enquanto desacreditamos de nossas próprias conclusões, às quais não reconhecemos validade.