domingo, 26 de agosto de 2012

PSICOLOGIA DO SELF



“A essência da cura analítica consiste em identificar e buscar objetos do self apropriados, tanto espelhantes quanto idealizáveis, e ter ressonância empática e ser apoiado por eles”.
“A cura é o caminho de empatia para a sintonia entre o self e os selfobjetos”
                                    Heinz Kohut


A psicologia psicanalítica do self foi formulada pelo psicanalista vienense Heinz Kohut, que emigrou antes da guerra para os Estados Unidos. Na cidade de Chicago, na época estavam Franz Alexander e Karen Horney, entre outros grandes analistas.
Com seu trabalho clínico, modificou e ampliou vários conceitos da psicanálise entre eles: o conceito de narcisismo, de empatia, de Édipo, de transferência e de cura analítica. Sua originalidade é incontestável, na forma e na conceituação, sendo seus trabalhos integrados clinica e teoricamente, com muita inspiração.
Seu trabalho nos faz ver a psicanálise sob um novo ângulo, a rever nossa experiência analítica, reexaminando a teoria da técnica e ter uma posição dialética sobre a teoria clássica de pulsão/defesa/conflito. Isto acontece pois a representação do self, e o olhar voltado sobre este “si mesmo”, passa a ser um ponto de observação central para o analista do self.
O homem não é para Kohut um ser conflituado, um joquete de pulsões instintivas, não tem um programa a ser repetido compulsivamente- como para Freud.
 É um ser que tem um destino, um programa de vida, um self nuclear que procura realizar-se e integrar-se. As patologias são compreendidas como falhas ou fracassos neste projeto de desenvolvimento do self, ou de si mesmo, e não apenas defeitos de estrutura, são mais ausência de função por falta de selfobjetos adequados. É portanto uma teoria muito mais generosa para com as dificuldades do ser humano que a Psicologia do Ego, baseada em pulsão/ conflito/ defesa.Vamos definir agora alguns conceitos fundamentais, de forma resumida:
  1. O QUE É SELF? É um conteúdo do aparelho psíquico, do qual faz parte aspectos conscientes e inconscientes de id, ego e superego. É constituído pela internalização de certas relações selfobjetais, com objetos reais (pai, mãe, avós, etc) É o núcleo operacional de nossa personalidade. O self começa a se tornar operacional como resultado da interação entre a dotação inata da personalidade individual e as respostas e relações com os objetos do self.
Outra forma de dizer a mesma coisa, é que com a divisão feita por Freud em três partes do aparelho psíquico, id, ego e superego, faltou uma parte que expressasse o ser humano inteiro; e é exatamente este “ser inteiro” que visa o termo “self”.
  1. A CURA - A Psicologia do Self não vê tornar consciente o inconsciente como a essência do processo analítico, quer dizer, não é a expansão do domínio do ego a tarefa fundamental, se bem que ela costuma acontecer.
  2. O que é importante então? Atributos como capacidade de auto-apaziguamento, o senso de continuidade do self no tempo e o papel do objeto do self em proporcionar estes atributos são valorizados. O processo de cura visa a analise das defesas e o desdobrar das transferências, e por fim, um caminho de empatia, de trocas e reconhecimento entre self e objeto de self em níveis maduros. A aquisição gradual de contato empático, de sintonia com objetos maduros do self, constitui a essência da cura analítica. Esta nova forma de encontro entre selves, ocupa agora o lugar das formas arcaicas de relacionamento. (Dependência, submissão, fusão, dominação, etc). Também se pode entender como encontrar a própria identidade, individualidade, autonomia, liberdade de ser o que é, estando em condições de estar só ou acompanhado, sem necessidade de usar o outro como objeto do self. (isto vai ser explicado mais adiante)   
  3. A EMPATIA - O analista deve resistir á tentação de enfiar sua compreensão do paciente nos moldes teóricos de sua preferência, até haver compreendido a essência da necessidade do paciente.... e só então transmitir sua compreensão. Empatia e introspecção são os instrumentos fundamentais do analista do self e delimitam um campo analítico de observação, através da capacidade de penetrar com o sentimento e o pensamento na vida interior de outra pessoa.
  4.  A FRUSTRAÇÃO ÓTIMA - Por melhor que seja a mãe, ou o analista- selfobjetos por excelência- haverá deficiências de cuidados, que propiciarão lentamente a substituição de selfobjetos por funções do self. O resultado final é um self operacionalmente autônomo. A desilusão gradual dá tempo da criança ou paciente ir desenvolvendo seu self pessoal.
  5.  Tanto excesso quanto falta de cuidados causam problemas e deficiências nas estruturas do aparelho psíquico. O conceito de frustração ótima é a pedra angular da teoria de cura da psicologia do self, e refere-se ao momento que o analista comunica uma compreensão razoavelmente precisa de uma experiência transferencial, geralmente devido a alguma expectativa frustrada do paciente em relação ao analista. A comunicação pelo analista de sua compreensão é otimamente frustrante. É frustante por que o analista não age de acordo com a necessidade do paciente, mas é ótima pois há reconhecimento e compreensão da necessidade. O vínculo empático se que estabelece entre paciente e analista substitui o atendimento da necessidade do paciente.  Obs. Os termos objetos do self e selfobjetos são praticamente sinônimos, os detalhes ficam para outro momento.

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