quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pensamentos após ler a entrevista de Susan Greenfield na Veja


Temos por um lado o sonho, a fantasia, o delírio e o devaneio que  são criações mentais, pensamentos sem correspondentes na realidade externa à mente. Estão no imaginário, são simulacros: imagem, cópia ou reprodução imperfeita, aparência, semelhança, arremedo, fingimento, simulação. A realidade se dá subjetivamente, sem validação ou comprovação por meios lógicos ou externos, e resistente à eles.

A hiper-realidade é um conceito para entender estas  interações com a realidade subjetiva, como a criada pelo espaço das redes sociais. Quando uma pessoa tem dificuldade em distinguir a realidade da fantasia, e passa a se relacionar com ela sem dispor da compreensão que ela requer, acaba por ser deslocado para o mundo do hiper-real. No Código Civil, lemos que o a capacidade de discernimento é o que distingue a pessoa capaz e incapaz para os atos da vida civil. Um mundo não existente se torna “real” através da Internet. Isto é denominado de “hiperealidade”, caracterizado por um mundo-cópia sem outra ligação com o mundo real a não ser a utilização deste para criar aquele... as pessoas então construindo uma identidade no ciberespaço que em boa parte é formada pela visão das outras pessoas. No Klout vem descrito seu índice de conexão e importância; se muitos o seguem no Twitter, você existe. Mas é com McLuhan dizia: “ o meio é a mensagem”, isto é, não há conteúdo algum, só a utilização da tecnologia. Outro exemplo: o Big Brother, um teatro sem enredo.  O que é conhecido é a imagem da pessoa, do objeto (em linguagem psicanalítica), e não a pessoa em si. isto é parecido com um narcisismo ou fetichismo,onde se sabe que não é, mas por outro lado, o faz-de-conta é aceito como real. Outra característica é a visão parcial da pessoa. Não se integra uma visão total, apenas “flashes”, imagens, momentos.

Aqui se coloca uma questão importante: como lidar com o tempo passado, presente e futuro. O tempo humano, colocado pelas gerações, se dilui nas relações des-conectadas da corporeidade: sem toque, sem convivência física, sem observar a linguagem não-verbal.

É o que acontece quando os adolescentes estão vivendo em seu universo virtual de jogos eletrônicos off e on-line, as redes sociais. Cria-se um mundo sem corpo real, onde o que parece ser real é na verdade uma representação de si (o avatar), uma representação do mundo, das relações sociais...é um mundo virtual, existente somente como um simulacro de ordem estimular e nada mais.

Por exemplo, na crise das tulipas, na Holanda, em que as pessoas vendiam e hipotecavam casas para comprar as tulipas cujo preço não cessava de aumentar,porque, em algum momento, elas foram objeto do desejo, ocasionando um alto preço, que se alastrou por todo o país. Como os signos de valores se tornam mais e mais numerosos, como marcas famosas, a interação, pessoal e comercial, se torna progressivamente baseada em coisas sem um significado intrínseco efetivo. Assim, a realidade se torna paulatinamente menos importante, sendo precedida por esse deslocamento de significado.  Uma vez, comprei um blazer Hugo Boss, e nem por isto tinha qualidade: dentro de pouco tempo ele descosturou todo, e logo depois de lavado o tecido perdeu todo o caimento. Isto é, a ligação que fazemos entre uma marca e qualidade, não tem nada a ver com o que ela realmente nos proporciona.

Uma marca não passa de sua apresentação da moda, aleatoriamente valorizada, e naquele momento. Compra-se um carro pelo status que indica e não apenas pela utilidade. Cada vez mais se presta  atenção ao que poderia significar, e menos à função. Isto acontece com cirurgias estéticas, viagens de férias, tratamentos para rejuvenescimento...Raramente se compra um produto estritamente por sua estrita utilização funcional hoje me dia.Quais são os fatores que contribuem para a criação da hiper-realidade ou da condição hiper-real?

Insatisfação, hedonismo, e basicamente na raiz de tudo a busca do prazer, o Princípio do Prazer como Freud o denominou. Estamos debaixo de suas leis neste mundo virtual: já se demonstrou que o neurotransmissor dopamina aumenta nos jogadores virtuais. È uma adição, como às drogas. O jogo patológico tem a mesma etiologia, quer dizer, origem.

A hiper-realidade engana a consciência por separar qualquer engajamento emocional real, pois parece que nela, mesmo as emoções são de certo modo e em alguma escala condicionadas por elementos hiper-reais concebidos previamente com essa intenção. Quero dizer: se chora e se si sem que se sinta realmente isto, apenas um simulacro do que se sentiria... e reproduções de aparência fundamentalmente vazia, nas quais se tenta implantar um pseudo-preenchimento de sentido.

Por outro lado temos a realidade exterior, o mundo que vivemos uma realidade compartilhada com outros seres humanos da nossa cultura. Um mundo onde há o reino mineral, vegetal e animal, e onde interagimos com estes seres inanimados e outros,vivos. Onde percebemos, sentimos, desejamos e pensamos..como tudo isto interfere no que é considerado como existente? Neste mundo externo, (Mundo 1 na classificação de Popper) , temos o mundo físico. Já o mundo sensorial, recebe o nome de mundo 2. É no mundo 3 que temos as construções da mente humana: teorias, modelos, conceitos, hipóteses, dogmas. Neste mundo está o simbólico, a linguagem, a representação. É uma construção humana esta hiperealidade. Uma coisa é viver em um mundo totalmente produto da criação humana, como o hiperespaço. E viver o tempo todo fora do mundo físico e emocional, tanto que os jovens não param de jogar para se alimentar. É uma criação da mente humana com pensamentos, e pensamentos onipotentes, conferindo poderes que a pessoa não tem. Exemplo: um professor universitário encontrou um parceiro para jogar Warcraft, e após vencerem seis partidas, seu líder disse que tinha de ir dormir, pois a mãe estava mandando. Nosso professor então perguntou a idade de seu companheiro de batalha, e este tinha 12 anos. Não estar ligado ao corpo no mundo, é que propicia estes acontecimentos. Pois que o corpo é simultaneamente  um objeto para os outros, mas é o meu corpo, constituinte da minha subjetividade e que possibilita a entrada em funcionamento da minha mente.
No mundo virtual, estou conectado na rede, mas desconectado de meu corpo, portanto incapaz de criar meu mundo, minha identidade e minhas relações, bem como ser eu mesmo!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

GLOSSÁRIO



HAPPENING- a participação espontânea de pessoas que eram expectadoras é o que caracteriza o happening. Você está assistindo algo, e de repente, você vira o artista, centro das atenções. É muito importante que a partir do momento que a pessoa saiu do anonimato e se manifestou, dali para frente, ela se torna a focalizadora do grupo, e este passa para a condição de expectador. Isto forma uma dialética que constrói uma forma especifica de levar adiante uma tarefa.

MASCULINO- é uma manifestação geralmente associada a uma energia ou força, assertiva, agressiva, determinada, geralmente centrada na razão, com pouco uso do emocional. Ser emotivo, geralmente não é considerado coisa de homem, “homem não chora” é típico neste sentido, indica perda do controle, que é fundamental para o exercício do domínio, ‘highlight” do machismo.

FEMININO- Forma associada ao que é submisso, fraco, sem força, centrada na emotividade e no descontrole. Geralmente nunca pensamos que haja uma força feminina, uma forma feminina“de ser forte”. As mulheres copiam os homens quando querem parecer fortes: falar grosso, ser dura, e por aí. Não sabemos mais como seria uma forma feminina de ser forte, esquecemos... Ser frágil, vulnerável é ser “forte”?

COMPULSÃO À REPETICÃO é derivada de forças que trabalham no inconsciente a nosso desfavor, até o momento em que alcançamos a libertação delas, através do processo de tomar ciência do que está acontecendo. De um modo geral, não é mais que a repetição de um padrão de gerações; “ assim como a mãe foi, assim será a filha, etc”. É um molde, um script, do passado indesejado, que teima em retornar nos nossos relacionamentos ou na maneira que procedemos. Passa de uma geração à outra, até que alguém se dê conta do padrão, e então, possa não segui-lo mais, e tomar outra direção.

SINCRONICIDADE refere-se a uma simultaneidade não planejada entre dois fenômenos. De repente, algo similar se duplica, fazendo uma conexão inesperada entre duas coisas aparentemente não relacionadas. Contrapõe-se à causa e efeito...

HOMEOSTASE, meio interno do organismo deve permanecer constante para que haja manutenção da vida...sobreviver, eis a questão, mas para que/?

ALOSTASE é a estabilidade alcançada através da mudança

STRESS CRONICO causa: diminuição da resposta imune, aumento da freqüência cardíaca,aumento dos mediadores da inflamação, aumento da oxidação e super ativação tóxica do glutamato e dopamina. O stress crônico causa um desgaste no organismo, é a “carga alostatica’ que este passa a ter que carregar.

ATITUDE  intenção, vetor, força, decisão “eu vou fazer isto.” E fazer, não ficar na somente na vontade, mas faze-lo. 

VALOR é sempre atribuído por outrem, portanto sempre não depende de nossa vontade. Todos os valores são relativos e dependem de interesses que não são nossos.

DESAFIO é tentar realizar aquilo a que nos propomos

LIMITAÇÕES por que acreditar que somos limitados? Por que não acreditar em si mesmo?

A TERCEIRA MARGEM DO RIO é uma necessidade de ir além das oposições binárias (ou duais) que estruturam nossas vidas, entre esquerda e direita, individual e social, a terceira margem, abre uma perspectiva a partir da qual ambas alternativas podem ser vistas. É um espaço independente, livre de dogmas, é um lugar de observação- de testemunhar os contrários como parte de um sistema. (conto homônimo de João Guimarães Rosa)

EXPLICAR não explica nada, uma analise intelectual não funciona, não há emoção e não há mudança psíquica. São apenas memórias declarativas- racionais-  e são incapazes de alcançar nossas emoções, são portanto verbalizações-ocas. Nossas emoções estão armazenadas em memórias processuais, longe do alcance da palavra falada, não podem ser verbalizadas- só podem ser vivenciadas ou repetidas, mesmo com a pessoa inadequada- mas ela tem um endereço certo- precisam de tomar corpo, pois o corpo fala aquilo que a mente não sabe expressar.