sexta-feira, 26 de abril de 2013

CRISE DE IDENTIDADE


Crise não é catástrofe, isto é, uma situação de destruição. Refere-se a uma situação onde há um conflito a respeito de qual direção tomar. Todos nos temos de fazer escolhas a respeito de nossa identidade sexual, nossa profissão e muito mais. Crise é esta encruzilhada, onde temos de tomar uma decisão. Que responsabilidade, pois a diferentes resultados chegaremos.
2.       Identidade refere-se a: identificações, habilidades e capacidades, mais papéis sociais. É como se fosse um programa de computador. Uma vez instalado, ele vai continuar funcionando daquela forma, até que seja deletado.  Nossa personalidade é assim, ela tem uma persistência no tempo, na qual determinadas características se repetem habitualmente. Inclui o que chamamos de personalidade. É um conceito bifronte, pertencente à psicologia social. Temos por um lado o temperamento da pessoa, sua constituição genética, com suas habilidades físicas e mentais, além de suas capacidades. Tudo isto em grande parte é inato. Já o papel social é determinado de acordo com a classe social, educação, sexo, casamento, filhos, profissão, etc. articula-se com estes aspectos mencionados mecanismos de identificação. Este mecanismo psicológico contribui para a modelagem de nossa identidade através da incorporação de pessoas importantes. Por exemplo, os canibais acreditavam que adquiriam a força de um guerreiro comendo-o. É precisamente isto que ocorre na identificação, onde psicologicamente ingerimos as características de pessoas admiradas em fases precoces de nossas vidas. Daí a importância da mãe, do pai, dos irmãos e da família em geral.
3.       Crise ou confusão de Identidade refere-se principalmente ao período que ocorre na adolescência. Porém podemos ter uma crise de identidade em qualquer época de nossa vida.  Não é uma entidade diagnostica, descreve um distúrbio durante uma fase do desenvolvimento humano. Geralmente é uma situação aguda,  ou pelo menos seu inicio é agudo. A pessoa esta exposta a fatores stressantes, a experiências que exigem dela mais do que esta pronta para responsabilizar-se, seja por imaturidade, doença ou fragilidade constitucional. Nestes momentos, podem sobrepor-se duvidas, conflitos, sobre a identidade sexual, a escolha ocupacional, a função psicossocial. Alem do mais, creio ser parte integrante da crise a dificuldade da pessoa lidar com a angustia e o medo, geralmente associados à destruição do senso de eu, ou do medo de enlouquecer. Duas dificuldades chamam a atenção: a incapacidade de acalmar-se por si mesma, e a de ter intimidade ou estabilidade em uma relação significativa com o outro. Está tão imersa em suas dificuldades, que o outro só pode entrar como apoiador, em um papel materno ou paterno.  Sintomas como ataques de ansiedade, pânico, insônia, tonturas são os mais comuns. Fisicamente a pessoa se sente muito sem forças, tensa. Psicologicamente regride a fases mais antigas do desenvolvimento, voltando a querer atenção e cuidados, como se fosse uma criança pequena.  Na crise de identidade as fronteiras do self se borram, e há medo de que os envolvimentos afetivos sejam perigosos, (pelo receio de ser engolfado pelo outro). Eis um dilema: precisar e temer o outro. Só, teme a destruição e necessita apoio externo humano; junto teme ser dominado, subjugado, correr o risco de ser desintegrado. Isto leva o jovem a um distanciamento das pessoas que poderiam apresentar o risco de haver envolvimento. Daí, a agressão, como defesa do próprio eu.  O Jovem quer aprender, ter um pai, um professor, um modelo, geralmente idealizado, como são seus heróis(cantores, artistas). Quer estar próximo a estas figuras e as copia, para identificar-se com elas. Mas há uma sensibilidade à rejeição, ou medo, que leva ao distanciamento fóbico, como uma forma de defesa. Faz parte ainda da crise uma urgência temporal(quer tudo agora) Eis aqui o exemplo de um jovem magro, de família de classe media, sente-se feio, tem baixa autoestima, e coloca como valor Maximo o dinheiro. Passa então a exigir de seus pais que invistam 30 mil reais para fazer uma distribuição de roupas, na qual se enriqueceriam. Isto é abordado na terapia, a saber, o desejo de sobrepujar os penosos sentimentos de inadequação e fraqueza, através da riqueza, sem ter de elaborar suas imagens negativas e as imagos de seus fantasmas internos. Enquanto isto,ele falha em fazer o que está ao seu alcance, por exemplo, ir à escola ou fazer esporte, apresentando uma dificuldade de executar as tarefas reais que poderiam auxiliar, desperdiçando suas energias em internet (dificuldade executiva).
4.       Com relação à identidade sexual, interessa distinguir entre meninos e meninas diferentes formas de lidar com esta questão. A menina tem uma vivencia corporal mais marcada que o menino, principalmente pela vinda da menstruação, que coloca o corpo em evidencia, e todas as sensações dolorosas que daí advém, com a possibilidade de engravidar, em um momento que a mente ainda não está pronta. A consciência corporal da mulher leva-a a ter um maior contato com as emoções, maior conexão com o tempo, advinda pelo ritmo menstrual, e uma forma física de lidar com o stress. A dor da mulher é interna. Daí a importância da aparência para a menina, que se baseia no uso do corpo para ser aceita e amada. Já com o rapaz, acontece uma luta dirigida ao mundo externo para provar seu valor. A dor do menino é uma dor de um mundo doloroso, onde ele tem de conquistar seu valor para ser homem. Isto nos leva a refletir o porque 80% dos usuários de droga são do sexo masculino.  Para ser mulher de certa forma, é um dado pelo seu corpo. Para ser um homem, não basta o corpo, é necessário uma conquista a ser realizada no mundo. 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pensamentos após ler a entrevista de Susan Greenfield na Veja


Temos por um lado o sonho, a fantasia, o delírio e o devaneio que  são criações mentais, pensamentos sem correspondentes na realidade externa à mente. Estão no imaginário, são simulacros: imagem, cópia ou reprodução imperfeita, aparência, semelhança, arremedo, fingimento, simulação. A realidade se dá subjetivamente, sem validação ou comprovação por meios lógicos ou externos, e resistente à eles.

A hiper-realidade é um conceito para entender estas  interações com a realidade subjetiva, como a criada pelo espaço das redes sociais. Quando uma pessoa tem dificuldade em distinguir a realidade da fantasia, e passa a se relacionar com ela sem dispor da compreensão que ela requer, acaba por ser deslocado para o mundo do hiper-real. No Código Civil, lemos que o a capacidade de discernimento é o que distingue a pessoa capaz e incapaz para os atos da vida civil. Um mundo não existente se torna “real” através da Internet. Isto é denominado de “hiperealidade”, caracterizado por um mundo-cópia sem outra ligação com o mundo real a não ser a utilização deste para criar aquele... as pessoas então construindo uma identidade no ciberespaço que em boa parte é formada pela visão das outras pessoas. No Klout vem descrito seu índice de conexão e importância; se muitos o seguem no Twitter, você existe. Mas é com McLuhan dizia: “ o meio é a mensagem”, isto é, não há conteúdo algum, só a utilização da tecnologia. Outro exemplo: o Big Brother, um teatro sem enredo.  O que é conhecido é a imagem da pessoa, do objeto (em linguagem psicanalítica), e não a pessoa em si. isto é parecido com um narcisismo ou fetichismo,onde se sabe que não é, mas por outro lado, o faz-de-conta é aceito como real. Outra característica é a visão parcial da pessoa. Não se integra uma visão total, apenas “flashes”, imagens, momentos.

Aqui se coloca uma questão importante: como lidar com o tempo passado, presente e futuro. O tempo humano, colocado pelas gerações, se dilui nas relações des-conectadas da corporeidade: sem toque, sem convivência física, sem observar a linguagem não-verbal.

É o que acontece quando os adolescentes estão vivendo em seu universo virtual de jogos eletrônicos off e on-line, as redes sociais. Cria-se um mundo sem corpo real, onde o que parece ser real é na verdade uma representação de si (o avatar), uma representação do mundo, das relações sociais...é um mundo virtual, existente somente como um simulacro de ordem estimular e nada mais.

Por exemplo, na crise das tulipas, na Holanda, em que as pessoas vendiam e hipotecavam casas para comprar as tulipas cujo preço não cessava de aumentar,porque, em algum momento, elas foram objeto do desejo, ocasionando um alto preço, que se alastrou por todo o país. Como os signos de valores se tornam mais e mais numerosos, como marcas famosas, a interação, pessoal e comercial, se torna progressivamente baseada em coisas sem um significado intrínseco efetivo. Assim, a realidade se torna paulatinamente menos importante, sendo precedida por esse deslocamento de significado.  Uma vez, comprei um blazer Hugo Boss, e nem por isto tinha qualidade: dentro de pouco tempo ele descosturou todo, e logo depois de lavado o tecido perdeu todo o caimento. Isto é, a ligação que fazemos entre uma marca e qualidade, não tem nada a ver com o que ela realmente nos proporciona.

Uma marca não passa de sua apresentação da moda, aleatoriamente valorizada, e naquele momento. Compra-se um carro pelo status que indica e não apenas pela utilidade. Cada vez mais se presta  atenção ao que poderia significar, e menos à função. Isto acontece com cirurgias estéticas, viagens de férias, tratamentos para rejuvenescimento...Raramente se compra um produto estritamente por sua estrita utilização funcional hoje me dia.Quais são os fatores que contribuem para a criação da hiper-realidade ou da condição hiper-real?

Insatisfação, hedonismo, e basicamente na raiz de tudo a busca do prazer, o Princípio do Prazer como Freud o denominou. Estamos debaixo de suas leis neste mundo virtual: já se demonstrou que o neurotransmissor dopamina aumenta nos jogadores virtuais. È uma adição, como às drogas. O jogo patológico tem a mesma etiologia, quer dizer, origem.

A hiper-realidade engana a consciência por separar qualquer engajamento emocional real, pois parece que nela, mesmo as emoções são de certo modo e em alguma escala condicionadas por elementos hiper-reais concebidos previamente com essa intenção. Quero dizer: se chora e se si sem que se sinta realmente isto, apenas um simulacro do que se sentiria... e reproduções de aparência fundamentalmente vazia, nas quais se tenta implantar um pseudo-preenchimento de sentido.

Por outro lado temos a realidade exterior, o mundo que vivemos uma realidade compartilhada com outros seres humanos da nossa cultura. Um mundo onde há o reino mineral, vegetal e animal, e onde interagimos com estes seres inanimados e outros,vivos. Onde percebemos, sentimos, desejamos e pensamos..como tudo isto interfere no que é considerado como existente? Neste mundo externo, (Mundo 1 na classificação de Popper) , temos o mundo físico. Já o mundo sensorial, recebe o nome de mundo 2. É no mundo 3 que temos as construções da mente humana: teorias, modelos, conceitos, hipóteses, dogmas. Neste mundo está o simbólico, a linguagem, a representação. É uma construção humana esta hiperealidade. Uma coisa é viver em um mundo totalmente produto da criação humana, como o hiperespaço. E viver o tempo todo fora do mundo físico e emocional, tanto que os jovens não param de jogar para se alimentar. É uma criação da mente humana com pensamentos, e pensamentos onipotentes, conferindo poderes que a pessoa não tem. Exemplo: um professor universitário encontrou um parceiro para jogar Warcraft, e após vencerem seis partidas, seu líder disse que tinha de ir dormir, pois a mãe estava mandando. Nosso professor então perguntou a idade de seu companheiro de batalha, e este tinha 12 anos. Não estar ligado ao corpo no mundo, é que propicia estes acontecimentos. Pois que o corpo é simultaneamente  um objeto para os outros, mas é o meu corpo, constituinte da minha subjetividade e que possibilita a entrada em funcionamento da minha mente.
No mundo virtual, estou conectado na rede, mas desconectado de meu corpo, portanto incapaz de criar meu mundo, minha identidade e minhas relações, bem como ser eu mesmo!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

GLOSSÁRIO



HAPPENING- a participação espontânea de pessoas que eram expectadoras é o que caracteriza o happening. Você está assistindo algo, e de repente, você vira o artista, centro das atenções. É muito importante que a partir do momento que a pessoa saiu do anonimato e se manifestou, dali para frente, ela se torna a focalizadora do grupo, e este passa para a condição de expectador. Isto forma uma dialética que constrói uma forma especifica de levar adiante uma tarefa.

MASCULINO- é uma manifestação geralmente associada a uma energia ou força, assertiva, agressiva, determinada, geralmente centrada na razão, com pouco uso do emocional. Ser emotivo, geralmente não é considerado coisa de homem, “homem não chora” é típico neste sentido, indica perda do controle, que é fundamental para o exercício do domínio, ‘highlight” do machismo.

FEMININO- Forma associada ao que é submisso, fraco, sem força, centrada na emotividade e no descontrole. Geralmente nunca pensamos que haja uma força feminina, uma forma feminina“de ser forte”. As mulheres copiam os homens quando querem parecer fortes: falar grosso, ser dura, e por aí. Não sabemos mais como seria uma forma feminina de ser forte, esquecemos... Ser frágil, vulnerável é ser “forte”?

COMPULSÃO À REPETICÃO é derivada de forças que trabalham no inconsciente a nosso desfavor, até o momento em que alcançamos a libertação delas, através do processo de tomar ciência do que está acontecendo. De um modo geral, não é mais que a repetição de um padrão de gerações; “ assim como a mãe foi, assim será a filha, etc”. É um molde, um script, do passado indesejado, que teima em retornar nos nossos relacionamentos ou na maneira que procedemos. Passa de uma geração à outra, até que alguém se dê conta do padrão, e então, possa não segui-lo mais, e tomar outra direção.

SINCRONICIDADE refere-se a uma simultaneidade não planejada entre dois fenômenos. De repente, algo similar se duplica, fazendo uma conexão inesperada entre duas coisas aparentemente não relacionadas. Contrapõe-se à causa e efeito...

HOMEOSTASE, meio interno do organismo deve permanecer constante para que haja manutenção da vida...sobreviver, eis a questão, mas para que/?

ALOSTASE é a estabilidade alcançada através da mudança

STRESS CRONICO causa: diminuição da resposta imune, aumento da freqüência cardíaca,aumento dos mediadores da inflamação, aumento da oxidação e super ativação tóxica do glutamato e dopamina. O stress crônico causa um desgaste no organismo, é a “carga alostatica’ que este passa a ter que carregar.

ATITUDE  intenção, vetor, força, decisão “eu vou fazer isto.” E fazer, não ficar na somente na vontade, mas faze-lo. 

VALOR é sempre atribuído por outrem, portanto sempre não depende de nossa vontade. Todos os valores são relativos e dependem de interesses que não são nossos.

DESAFIO é tentar realizar aquilo a que nos propomos

LIMITAÇÕES por que acreditar que somos limitados? Por que não acreditar em si mesmo?

A TERCEIRA MARGEM DO RIO é uma necessidade de ir além das oposições binárias (ou duais) que estruturam nossas vidas, entre esquerda e direita, individual e social, a terceira margem, abre uma perspectiva a partir da qual ambas alternativas podem ser vistas. É um espaço independente, livre de dogmas, é um lugar de observação- de testemunhar os contrários como parte de um sistema. (conto homônimo de João Guimarães Rosa)

EXPLICAR não explica nada, uma analise intelectual não funciona, não há emoção e não há mudança psíquica. São apenas memórias declarativas- racionais-  e são incapazes de alcançar nossas emoções, são portanto verbalizações-ocas. Nossas emoções estão armazenadas em memórias processuais, longe do alcance da palavra falada, não podem ser verbalizadas- só podem ser vivenciadas ou repetidas, mesmo com a pessoa inadequada- mas ela tem um endereço certo- precisam de tomar corpo, pois o corpo fala aquilo que a mente não sabe expressar.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os Transtornos Alimentares*


O ser humano não é uma ilha, independente de tudo o que o cerca, e se fosse teríamos de dizer que o oceano seria a sociedade, na qual o homem vive imerso como um peixe no mar. Muitas são as culturas, raças e nações, e no entanto o homem é o mesmo em sentimentos, pensamentos e desejos, é uma grande variação sobre estes mesmos temas. Cada período da história, cada civilização e cultura tem sua própria maneira de conceber o mundo, o papel do homem nele e quais são as qualidades valorizadas, quais são os comportamentos virtuosos, e quais são os valores de bem e mal, certo e errado, feio e bonito. 

A diferença cultural pode ser exemplificada pela história da dona de casa búlgara, cujo marido convida um colega asiático para o jantar. Deixar de oferecer uma repetição é para ela uma grande falta de cortesia, e ela o faz, e o japonês aceita, até que ela tem de ir à cozinha preparar mais alimentos. Isto se repete até que o jovem japonês desmaia e põe fim a este sofrimento. Acontece que para um japonês recusar a oferta de seu anfitrião é uma grande ofensa, um desrespeito que ele detesta, tanto que prefere desmaiar à recusar a comida. Assim vemos que cada grupo social tem sua maneira de lidar com a comida, as regras sociais e hábitos alimentares estão impregnados de traços de sociabilidade, cortesia, aceitação e afeto.
Isto nos conduz diretamente até à primeira relação do ser humano, com sua primeira fonte de alimento, que é o seio. Seio este que é um órgão nutridor para o bebê, um símbolo de feminilidade para a mulher, e atração estética para os homens. Um órgão que tem significados distintos a partir da inscrição que ele toma na relação com o outro ou consigo mesmo. E é a partir da diferenciação do corpo da mãe evolui o ser humano, inicialmente gestado dentro do abdome da mulher. A diferenciação do self inicia-se nesta relação com o corpo da mãe, está inserida nestes primeiros contatos físicos mãe/bebê, e a maneira como o self vai ser formado tem a ver com esta relação. A relação afetiva mãe/ bebê necessária à sobrevivência está portanto apoiada em uma relação corporal e fluxo libidinal e por eles será configurada. Freud (1916) : “ O componente erótico que é satisfeito simultaneamente durante a sucção nutricional, torna-se independente com o ato da sucção sensual: abandona o objeto externo e o substitui por uma área do corpo do próprio bebê.” Ou seja, o alimento torna-se para o anoréxico/bulímico não apenas um elemento que dá prazer auto-erótico, mas é usado com funções “reguladoras” da relação com a mãe, tentativa de prescindir ou manipulá-la, passando a usar o corpo e o alimento neste sentido.

O alimento que por um lado pertence ao mundo exterior, por outro tem características muito pessoais, pois vai ser incorporado e constituirá o nosso corpo literalmente falando. É como se o leite fosse o primeiro objeto transacional, e este é um objeto líquido intermediário entre corpo da mãe, com o cheiro da mãe, e o corpo do bebê. A fantasia de estar comendo a mãe não é muito distante do que acontece na realidade... O alimento assim adquire um significado muito pessoal e carregado de características próprias da relação mãe/bebê e, no futuro, como esta pessoa vai relacionar-se consigo mesma e com os outros. E nestas relações desempenha o papel fundamental a alimentação, e à ela são anexados os cuidados corporais com o bebê, especialmente com a higiene e o contato com a pele da criança. São estas primeiras relações corporais - e notemos que são relacionadas com higiene e alimentação, com prazer e desconforto - que são a base das identificações que vão propiciar a formação de nosso aparelho psíquico.

Até aqui falamos de conceitos ligados à teoria da libido para entender a carga de afeto que está ligada ao alimento, porém não podemos nos esquecer das características oriundas da libido narcísica quando lidamos com os quadros dos transtornos alimentares. Não se lida apenas com significados afetivos dos alimentos em quadros de anorexia, bulimia ou obesidade. Lidamos muito mais com a imagem que estas pessoas tem de si mesmas, tanto de imagem física quanto mental. O conceito de beleza e do valor pessoal é algo que é variável de acordo com a época, raça e cultura. O ser humano aspira à perfeição e isto inclui uma perfeição física e psicológica. Daí a necessidade de adequar um modelo de corpo que corresponda a estas expectativas pessoais, pois o corpo é o agente fundamental da formação da consciência individual. 

No neolítico as estatuas femininas em geral retratam mulheres obesas, geralmente associadas à deusas da fertilidade, com grandes seios e quadris. Os nus de Renoir nos parecem gordos para os padrões atuais de beleza ocidental. Através da imagem estética busca-se uma identidade própria, e uma aceitação grupal, pois o conceito de beleza está ligado a um ideal de beleza de um grupo social. A imagem de si mesmo, a busca da harmonização da imagem si como é visto pelos outros, como sente o próprio corpo e como é a imagem objetiva de si, leva a pessoa à uma busca de integração pessoal, através da satisfação narcísica. Dependendo do grau de mentalização e introspeção, a pessoa poderá buscar isto dentro de si mesma (ideal do ego), ou no mundo externo (apoio social). 

A patologia símbolo de nossa época- os transtornos narcísicos- são exatamente uma tentativa de equacionar os problemas da formação do self e da identidade. Alguns recorrem então à cirurgia bariátrica ou à dieta; e outros à Psicanálise para encontrar uma integração e equilíbrio de si mesmo. Esta busca reflete o conflito entre corpo físico e mente, externo e interno, emocional versus racional, libido objetal e libido narcísica. Não devemos nos esquecer no entanto, que é a mente que forma uma imagem do corpo, e não que este corpo tem uma fisicidade objetiva concreta independente de qualquer representação mental.

A anorexia e bulimia, são exemplos que refletem a nossa cultura e seus valores, sendo praticamente inexistente em culturas que não valorizam a magreza. Em certas culturas ter uma mulher gorda é sinal de riqueza. A anoréxica geralmente é uma boa menina, que na adolescência mostra seus aspectos inafetivos e falta de autonomia, bem como não sentir seu corpo como seu, pois mantém uma fusão emocional com suas mães. A doença então é uma forma de autocura, e o controle de seu peso corporal é uma tentativa de lidar  com as dificuldades emocionais, como a dependência, a dificuldade de separação e passividade nas relações interpessoais através do controle do peso corporal. Poucas gramas fazem uma grande diferença, quando se trata da necessidade de adquirir ou não um sentimento de si mesma, e de sentir-se integra como pessoa. Mais uma vez o corpo é veiculo de regulagem de carências emocionais.

O comportamento do anorético reflete a necessidade de sentir-se uma pessoa especial e única, ganhando assim a possibilidade de ser amada, admirada pelas suas qualidades. Desenvolvem um falso self para agradar à mãe, ser uma criança perfeita, comportada, para assegurar-se de não perder o amor da mãe. A raiva e a agressividade reprimidas no entanto fazem com que o ressentimento se acumule, diminuindo a possibilidade de receber coisas boas das pessoas, que são rejeitadas. O tratamento é complexo exatamente pela necessidade de mudanças nas relações familiares que participaram do surgimento desta forma de constituir-se enquanto pessoa. Estritamente falando, parece que o paciente é o sujeito de relações afetivas mal resolvidas, especialmente da mãe. Assim sendo ele não consegue ser ele mesmo, há um pacto não escrito que os transtornos alimentares são a  solução que paciente e família encontraram de lidar com as dificuldades sexuais e agressivas, de crescimento e de separação.

Os episódios de bulimia são devidos ao deslocamento para a comida da raiva e da agressão que é inconscientemente dirigida para os pais. O relacionamento com eles é utilizado para receber uma punição e a comida é destruída canibalisticamente. Estas pessoas não conseguem regular seus relacionamento afetivos, assim como não conseguem regular a ingestão de comida, para a qual são deslocados seus problemas pessoais. Neste contexto, o vomito equivale a uma rejeição de internalização de algo bom, ou então ao medo de ser invadida por algo ruim, que precisa ser expulso. Uma voracidade intensa, com o desejo de engolir e tudo possuir, esta incorporação oral determina que estas coisas ou objetos bons que são desejados sejam incorporados com muita agressividade, o que os torna maus, ou então estragados pela própria violência da pessoa neles colocada, inclusive pela forma raivosa com que foram incorporados. Este ataque interno determina a necessidade de expulsá-lo pelo vomito ou pela não ingestão, atacando também os vínculos com as pessoas fornecedoras de alimento- a mãe. Não conseguir receber aumenta ainda mais a raiva e a inveja, e a penúria interna torna a frustração ainda mais desesperada- o que leva a mais agressão. 

A bulímica simbolicamente destrói as pessoas (os vínculos afetivos) através da comida, e a anoréxica tenta manter o controle sobre sua agressividade recusando-se a comer. A ingestão alimentar simboliza um modo de relacionamento onde se expulsa, recusa ou ingere-se desordenadamente os sentimentos; o desejo de estar fundido com o outro e as dificuldades de separação ou expulsão de sentimentos negativos são transformadas em desejo de ingerir ou recusar alimento(afeto, libido).

Assim a comida tem uma função de lidar com a raiva, com a frustração, e obter um prazer às avessas, é um modo de se comunicar com a família e a sociedade, de ser punida(bulimia) ou de punir(anorexia). A comida surge no lugar das preocupações emocionais e dos sentimentos, especialmente afetivo-sexuais, narcísicos  e agressivos, das dificuldades de separação da mãe à qual encontra-se fusionada em diferentes graus, com prejuízo  da imagem  de si mesma como pessoa.
A tarefa dos profissionais de saúde é entender a complexidade envolvida nestes comportamentos, que não podem ser reduzidos somente a um de seus ângulos, seja nutricional, psicológico, social ou médico. Os transtornos alimentares são complexos e de difícil tratamento, e soluções definitivas como a cirúrgica necessitam de cuidadosa avaliação psicológica, pois a grande redução de peso resultante pode alterar a imagem de si próprio, e ser sentida como um esvaziamento de si mesmo(self) e podendo levar a vivências  até de nível psicótico, pela possível perda da identidade precariamente obtida desta forma.

Tendo proposto as questões culturais dos distúrbios alimentares, eu gostaria  de situar o panorama social e cultural no qual se localizam os transtornos alimentares. Nenhum homem vive independente do seu mundo que o cerca, e em Psicanálise existe uma divisão sobre o papel do meio ambiente como uma causa de problemas ou não. Existem aqueles como Karen Horney, Winnicott e Kohut que atribuem um fator fundamental ao ambiente seja ele cultural ou seja representado pela mãe; enquanto que outros atribuem um papel muito menor, e dentre estas quero destacar a grande figura de Melanie Klein. Já Freud, com toda a sua genialidade, era eqüitativo, atribuindo a ambos os fatores igual importância, um complementando o outro, o que ele chamava de série complementar.

No seu livro “ Psicologia de grupo e analise do ego”, ressalta Freud que a inserção de uma pessoa em um grupo social dá-se por uma identificação primeiro com o líder, e depois pelos membros do grupo entre si. A palavra líder pode ser substituída por qualquer figura que a pessoa admire ou que sirva de modelo de identificação, e entre os adolescentes é comum que seja um artista ou cantor da moda ( é bem verdade que são todos substitutos das figuras parentais). Esta pessoa e o grupo assumem o papel de superego e ideal de ego do indivíduo no grupo, como descrito por Freud,  e assim a pessoa é dirigida em seus ideais e controlada em seus desejos desta forma, copiando comportamentos e formando hábitos. Um dos mais importantes é quanto aos hábitos alimentares, que tem tudo a ver com afeto e sentimento, especialmente com relação com a mãe. A relação com a comida é de uma tonalidade afetiva determinada pela dupla pais/filhos inseridos na cultura familiar. O cheiro e a apresentação dos alimentos, a reunião das pessoas à mesa, não são apenas para nutrir o corpo físico, mas nutrem as relações  amorosas nas famílias. A hora da refeição é uma hora de trocas afetivas entre as pessoas, e com a vida moderna isto está mudando, as pessoas não estão todas presentes, não comem juntas. A  super-alimentação e obesidade podem ser  investigadas como questões de pulsões orais e dificuldade de controlar pulsões agressivas, mas do ponto de vista de representação do self, trata-se da necessidade da criança estabelecer uma relação com alguém que lhe forneça alimento, por mais vaga que seja a forma que esta relação seja  reconhecida. No entanto, a criança necessita não apenas da comida, mas principalmente do suporte afetivo para edificar o seu self, e isto só se torna possível na  relação que se estabelece com quem a alimenta de amor.

No famoso artigo de Freud de 1914, “ Sobre o Narcisismo”, ele distingue duas principais partes do ego, primeiro as funções do ego, e em segundo, as representações do ego. Quanto às funções do ego, nossa sociedade tem dado um avanço tremendo, com muitos ganhos nos aspectos cognitivos, motores, com desenvolvimento de habilidades técnicas que não cessam de evoluir. Já no aspecto representacional do ego, não tem havido o mesmo progresso e desenvolvimento do self. Por representação do self, entenda-se a imagem coesa e integrada que uma pessoas desenvolve de si mesma no decorrer do tempo, é um sentimento de ser ela mesma, de identidade, e também como gênero, isto é, homem ou mulher. Deve-se incluir neste sentimento de si-mesmo a capacidade de manter relações afetivas com outros significativos- isto é, pais, irmãos, parentes, namorado/a, marido/mulher, amigos e colegas. Nota-se nestes pacientes uma insatisfação difusa e mal definida, uma sensação de vazio crônico, uma vaga depressão atípica, que Kernberg denominou de síndrome de difusão de identidade, que é uma das maiores características dos distúrbios narcísicos  de personalidade. A difusão de identidade manifesta-se por percepções contraditórias de si mesmo,  e uma visão empobrecida dos outros, que ocasiona relações caóticas e superficiais com as pessoas. 

Estes distúbios, juntamente com os borderlines, são para o analista contemporâneo aquilo que para Freud era a histeria- a grande maioria dos casos e um enigma a ser decifrado, um desafio. Ao mesmo tempo, tem sido umas das grandes fontes do avanço teórico e clínico na psicanálise. Borderline é uma classificação que refere-se a pacientes com uma ansiedade crônica difusa e flutuante, que manisfesta-se por sintomas fóbicos, obsessivos-compulsivos, hiponcondríacos, sexualidade perversa, adição à drogas ou álcool, e algumas formas de obesidade. Assim como Freud através da tentativa de compreender as manifestações da histeria desenvolveu o método psicanalítico e uma teoria que desse conta de explicar o que ocorria, hoje em dia, na tentativa de compreender e tratar os pacientes narcísicos e borderlines, os analistas contemporâneos tiveram de desenvolver novos conceitos e novas abordagens práticas para poder tratá-los. Freud considerava estes pacientes inadequados à sua técnica, que hoje poderíamos chamar de “clássica”. Mas com as novas teorias psicanáliticas, que nasceram do desenvolvimento dos conceitos geniais de Freud, hoje em dia estes pacientes se beneficiam de tratamento psicanalítico também, com as modificações que forem necessárias. A importância para nós no tratamento destes transtornos alimentares, é que à medida que crescem as dificuldades alimentares de uma pessoa, mais próxima está ela destes espectros mais narcísicos, principalmente se considerarmos a bulimia, anorexia e graves obesidades, as quais não são possíveis de ser tratadas sem levar em conta a questão de representação de si-mesmo ou self e portanto das patologias narcísicas de personalidade.

Como tem sido salientado por diversos autores, nossa sociedade caracteriza-se principalmente pelo  narcisismo. Alongar-me sobre o que é narcisismo ou dar explicações detalhadas sobre as causas do predomínio dos transtornos narcísicos em nossa sociedade atual, escapa e transcende os objetivos deste artigo. Mas para situarmos a questão, é necessário pontuar que narcisismo originalmente foi entendido por Freud como a volta ou o retorno da libido sobre o próprio ego, em lugar de dirigir-se ao mundo externo. Não quer dizer que o indivíduo ame muito à si mesmo, pelo contrário, são pessoas que não conseguem amar nem outros, nem à si mesmos, o que lhes traz um sentimento de vazio existencial. Elas não estabelecem relações verdadeiras com as pessoas, pois estes “outros” são sempre investidos de libido narcísica. Entenda-se então que estes outros são vivenciados como parte integrante do self da pessoa, tanto quanto uma parte ou função de seu próprio corpo. Os problemas surgem exatamente quando este outro escapa ao controle e de alguma forma se faz presente como diferente do indivíduo narcísico.

Na época de Freud predominavam os aspectos histéricos da sociedade, e como dissemos anteriormente, na tentativa de compreender os fenômenos histéricos, acabou por encontrar um método de tratamento que se revelou capaz de não só tratar estes pacientes, mas também de fornecer subsídios para uma teoria psicopatologica, do desenvolvimento, enfim uma psicologia que explicasse o funcionamento da  mente.

Nos tempos atuais, com o deslocamento na direção das patologias narcísicas, o que é reflexo da desestruturação do self/si-mesmo em nossa sociedade atual, com a precária formação de um self organizado e coeso em grau suficiente para ser autônomo. Há atualmente uma ausência de objetivos de vida, de direcionamento para idéias ou ideais, sejam estéticos, culturais ou científicos. A nossa sociedade tem elegido a riqueza financeira e a beleza física como o maior bem, e no afã de consegui-los homens e mulheres trabalham duramente em condições adversas em vários níveis, desde higiene e salubridade precária,  qualidade de vida pessoal e familiar insatisfatória, colocando a saúde  mental e a felicidade em risco. A busca da beleza física como objetivo maior tem impelido as pessoas em direção ao culto do corpo de uma forma narcísica, isto é, não se busca mais o esporte ou a dieta por sua qualidade de propiciar saúde ou nutrição, mas para satisfações narcísicas- e por isto podemos entender a necessidade de manter a valorização e integração de um sentimento de si-mesmo que está em desagregação, e tenta-se juntar e colar com preocupações corporais.  Cuidados com o corpo nos lembra os cuidados que a mãe faz ao seu bebê, e assim sendo podemos pensar que esta preocupação corporal é uma metáfora de cuidados maternos, uma maternagem substituta que a pessoa procura encontrar, e na verdade encontra- seja com cirurgias plásticas, massagens, promiscuidade sexual e academias. Devido a esta necessidade materna intensa, e pelos vários profissionais necessários ao tratamento, hoje em dia é preconizado por todos os autores que pacientes com transtornos alimentares sejam tratados em equipe multidisciplinar (o mesmo vale para usuários de drogas).

A busca incessante de algo que possa dar satisfação narcísica é frenética e ininterrupta, exigindo sempre novos endereços, sejam geográficos ou profissionais, através de mudanças contínuas, seja de relacionamentos novos que possam suprir a eterna insatisfação com o que se tem,  ou mesmo fazendo tratamentos da moda ou usando roupas de marca famosa. E não é apenas uma questão de prazer, é uma questão de sentimento de identidade pessoal, é uma questão de sobrevivência, como diria Freud, está além do princípio do prazer, a saber, nas questões de vida/morte. Nossa sociedade é uma sociedade que exige velocidade na satisfação, o prazer tem de ser imediato, rápido. Assim como vemos nas lojas os produtos pré-fabricados ou prontos para uso,  objetos para uso descartáveis, desta mesma forma se pensa nas relações humanas e no prazer. Tudo isto colocado no mesmo nível, pois já não há diferenciação entre o que importa e o que é secundário, a partir do momento em que o superego está desestruturado. Mata-se e morre-se pelo banal e pelo perverso.

Revistas femininas trazem receitas e fórmulas para emagrecer, ensinam como alcançar o orgasmo, como satisfazer o parceiro ou como fazer um prato diferente, ou até conseguir aumento no emprego. Nas revistas masculinas exibe-se carros, mulheres,  os grandes objetos do prazer masculino, com fórmulas para se alcançar o sucesso, bem como orientações como se vestir, comportar-se, e até mesmo como se divertir. Temos então a pré-fabricação das expectativas do comportamento pessoal, de homens e mulheres, definindo inclusive para cada sexo quais são as atribuições e preocupações que cada um deve ter. Isto se extende a todas as áreas, incluindo trabalho, o corpo,  a vida que se tem, levando as pessoas à busca de solucões mágicas, sejam cirúrgicas, de remédios novos propiciados pela industria farmacêutica, de novos tratamentos, de novas seitas, de produtos de marca; enfim é a sociedade de consumo tentando suprir as demandas de prazer das pessoas, através de DVD, TV e carro novos... Mas este prazer dura pouco, é descartável, consumido e então sofregamente, toca a descobrir novas alternativas: spas, religiões, tratamentos estéticos, viagens de lazer ou até mesmo esoterismo, tipo caminho de Santiago.

Esta busca de um prazer contínuo e fácil, combinada com a incapacidade de ter objetivos a longo prazo e esforçar-se para alcançá-los, aliada à descrença nas pessoas, instituições e nas próprias capacidades, tem levado as pessoas à uma alienação completa do que seria o objetivo a ser alcançado em seu desenvolvimento psicológico, pessoal, sexual, profissional, na vida enfim, ficando paradas em fases  precoces do desenvolvimento emocional,  aqui  apresentadas como distúrbios narcísicos e borderline da personalidade.

Esta busca do prazer permanente baseia-se na crença onipotente de que o homem tecnológico tudo pode, mas no fundo revela a incapacidade de viver com a castração, com a falta, com a limitação inerente à condição humana,  representada pelo mito edípico.  Já os distúrbios histéricos pertencem à um espectro de patologia de um self já estruturado, onde já existe um objeto externo, onde já existe triangulação edípica; já nos narcísicos a relação com o outro praticamente não existe, pois o outro é experimentado como uma parte de si mesmo, o outro é substituído por vínculos narcísicos como descritos brevemente acima, isto é, o outro é ao fim e ao cabo, uma parte do self narcisico.  Isto é, não há outro, não há relação afetiva com outro eu, as relações são com “coisas” e que levam portanto a um empobrecimento do eu, que como sabemos obtem parte de sua força na satisfação e reconhecimento com as pessoas.

O indivíduo não tem mais independência  de idéias e ideais, e os substitui pelos incutidos pela  sociedade que pertence, transmitidos através da propaganda e dos meios de comunicação de massa; ou seja, um corpo magro ao extremo, ou inflado por silicone ou anabolizantes. Magreza esta que visa negar as qualidades corpóreas reais, o que é também a negação do desejo, da pulsão. As funções femininas reais escasseiam e são recolocadas no corpo através de tratamentos estéticos ou de implantes de silicone. É a robotização do corpo,  coisificação que visa criar uma estrutura hiperrealista que simule aquilo que foi extirpado- a feminilidade. O  mesmo é feito com o corpo masculino através de exercícios, tratamentos químicos e próteses penianas. Procura-se negar a diferença de gerações,  procurando apagar rugas e as marcas do tempo que passa, e do gênero, onde se borra as diferenças sexuais. É negar Édipo que mais uma vez se tenta na sociedade globalizada, onde tudo é pasteurizado pelos meios de comunicação de massa. Assim como a pasteurização visa matar bactérias do leite para evitar sua fermentação, a cultura moderna tenta matar no nascedouro as diferenças socioculturais, através do bombardeio da propaganda, transformando o mundo em todo lugar se pensa e veste-se do mesmo jeito, come-se a mesma comida, o estilo de vida é o mesmo. Parece que em parte isto é alcançado pelas quebras de vínculos afetivos entre as pessoas e internamente, pela precária estruturação do aparelho psíquico. Nossa sociedade parece dificultar o crescimento de individualidades, e facilitar o acesso à tecnologia moderna e ao consumo.
Resta e então a alienação de si mesmo, a fuga através das drogas, a exclusão.  O excluído do mundo moderno inclui além do pobre, o aidético, o homossexual, o drogado. Mas cresce a classe dos excluídos da própria subjetividade, e são os que vivem no consumo superficial, sem família, educação ou valores éticos e assim não conseguem formar suas individualidades.

E termino esta exposição dizendo que nossa cultura contemporânea, apesar do inegável progresso científico e tecnológico, sofre vários problemas na área dos valores humanos, tem algo doente  nesta sociedade- o que não quer dizer que não o tenha havido em outras- e que isto tem gerado novas patologias, que eram raras ou até mesmo desconhecidas em outras sociedades e culturas. E destas fazem parte, com certeza os transtornos alimentares, a dependencia de drogas, a AIDS, que são doenças de nosso tempo e de nossa civilização, e a cura não é somente um novo remédio fabricado por uma industria  farmacêutica do primeiro mundo, mas uma conscientização do que nossa sociedade é- e que tipos de indivíduos e pessoas ela tem de-formado.


Bibliografia
Freud, S: (1921)Análise de Grupo e Psicologia do Ego. Imago, vol 18,1980
______:  (1914) Sobre o Narcisismo, Uma Introdução. Imago, vol 14, 1980
______ : (1916) O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. Imago, Vol 16, 1980
Gabbard, G.: Psiquiatria Psicodinâmica na Prática Clínica. Artes Médicas,1992
Kohut, H. A Restauração do self. Imago. 1988
Laraia, RB Cultura, um comceito antropológico . Jorge Zahar, 1986
Melo, J. et. Al: Psicossomática Hoje, Artes Médicas, 1986


 Paulo André M. Borges

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


A Bienal de São Paulo

  1. A arte precisa ser bela para ser arte?
  2. Fragmentar um texto termina com a perda do sentido. Não se encontra o significado da arte com analises. No entanto, como construir é uma possibilidade de se fazer arte, a desconstrução também é. (a respeito de uma obra na qual o autor agrupa as palavras de um texto de Camus, elaborando em forma de verbetes, como em um dicionário, e depois, vai além, agrupando letra a letra)
  3. O que determina que uma obra seja classificada como obra de arte? O que a oficializa como arte? Para mim, o que me auxilia a criar ou conectar com um espaço interior.
  4. O vazio torna o exterior, bem como os limites, mais perceptíveis. O enquadramento, bem como o material, determina o que pode ser exposto ou realizado.
  5. Mais do mesmo, variações do mesmo, o poder do possível igual. A identidade e a individualidade na diferença quase imperceptível. No meio de 1800 quadros semelhantes, se impõe não ver cada um individualmente, mas perceber o mecanismo que os gerou, ou a força de existência material deles.
  6. Se agimos, nos perdemos na ação e não vemos o ser. Para ver o que é, temos de parar. Ser observador, ser testemunha. A presença do ser melhor se nota quando não se tem ação. Tornar-se lento, é uma forma de poder melhor captar o ser; bem o contrario do que fazemos habitualmente:correr.
  7. Uma câmara mostra algo quase homogêneo que não conseguimos identificar bem: piso, teto, areia, chão...não se vê forma, mas percebemos que a câmara está se deslocando por pequenas alterações de textura. Então, depois de algum tempo, a câmara se levanta e vemos uma orla de mar, depois montanhas, e o céu...horizontes, nova perspectiva. Do fechado em si, para a liberdade.
  8.  No mundo inteiro há parquinhos de diversões. Um artista fotografou 167 deles por países de todos os continentes. É universal, transcende línguas, raças, culturas, riqueza e pobreza com sua singeleza e simplicidade. O que há de comum? O movimento corporal. Todos nós temos um corpo e deslocar este corpo causa prazer. Escorregador, assim como tobogã, é gostoso!
  9. Domínios de conhecimento são gerados pela união de teorias e suas articulações. Nós escolhemos, nós construímos as imagens e crenças que vão compor nossa vida.
  10. Para saber onde queremos ir temos de saber de onde saímos e para onde vamos. Precisamos de mapas que nos guiem, para que não nos percamos.
  11. O que é o mundo? Natureza, minerais, vegetais e animais. Homem: organizar a infância, compor a própria historia, classificar as crenças. De tudo fazemos coleções. (Até mesmo guardamos tranqueiras que não servem para nada.)

Apreciação de uma Bienal do Mercosul

Em 2007, tive um renovado interesse por arte moderna. Tive a oportunidade de ir à Bienal do Mercosul. Proponho-me neste espaço tentar repartir com vocês o que lá aconteceu. A arte é simultaneamente comunicação e realização. Quando não podemos resolver algo no mundo das formas concretas ou na vida pessoal, o caminho de arte é uma possibilidade. É uma espécie de substituição do que poderia ser. Mais vai além da mera probabilidade; o mundo do imaginário e do símbolo, irrompe nas obras de arte. O sonho, a imaginação do artista,  arrasta consigo para outro espaço e tempo, o seu público. Sempre olhando as paredes, não vemos o teto. Vivemos nos espaços circunscritos das casas e locais de trabalho, na rotina. Qual é a surpresa, quando entramos em uma sala “vazia” e nada lá  acontece...ateé que nos damos conta, (se não sairmos frustrados e apressados antes) ao ver que a obra a ser observada, não está  na parede, mas sim no teto! 
   
Há um mundo real, que é a natureza, e um mundo construído pelo homem, em dois níveis: religião, obras de arte e ciência no patamar mais elevado e os produtos da tecnologia: pontes, casas, prédios e celular. Inicialmente ao se entrar no recinto de uma exposição, há de se ter um tempo para caminhar. Não é ver o que está exposto e partir às pressas para a próxima sala.Há que se ir sentindo, vendo, dando tempo da mente ir juntando o sensorial e o emocional. Pode ser que surja alguma lembrança, que aquilo te traga algum sentimento ou pensamento à mente. Pode ser também que você não perceba nada, sinta nada. Não espere ver o que esperava ver. Antes de permitir que a obra entre dentro da sua mente, você não sabe o que vai ver. É comum se ficar perguntando: o que é isto? Tal questionamento necessita de um deixar a percepção ocorrer e suspender por um momento o processo mental.  Deixe espaço para a obra  poder te transmitir a mensagem oculta. O que ela transmite a você? Sentir em si mesmo neste momento, e ser receptivo, é o ponto a ser atingido. Isto por si só já configura um ganho de ir a uma exposição de arte, pois propicia este exercício tão necessário: entrar em contato com os próprios sentimentos, e a partir daí, a construção do pensamento. Simultaneamente tão simples e tão complexo. É um ponto de partida para as descobertas. Descobrir: ver o que estava coberto.

 Estamos tão envolvidos na luta pelo trabalho de todo dia que não vemos que  seguramos em nossas mãos a ponta da corda. Só vemos o novelo, o nó emaranhado. O nó é enorme, e o homem que segura a corda, pequenino. Vemos o nó e não vemos o homem. Esta obra foi exposta da forma que a descrevo: um minúsculo homem segura em suas mãos uma enorme e pesada corda. Estamos tão envolvidos com rotina que não vemos o por do sol. As câmeras ocultas em lojas, aeroportos mostram o movimento das pessoas. Um segurança vira sua câmera, já não mais para o que deveria vigiar, e sim para observar o por do sol. Claro, ele foi demitido, mas seu vídeo foi exposto, e é de uma beleza que toca fundo, principalmente quando ficamos sabendo o que estava acontecendo. Não era só uma foto de por de sol. Era alguém que ao por do sol, todos os dias, por uns minutos, lembra-se de algo maior que ele mesmo, de um ritmo da natureza do qual nos distanciamos tanto, que nem percebemos mais. Perdemos a sensibilidade. O que parece fácil, é difícil. O que parece longe, pode ser mais perto. Para ver, é preciso procurar. Para entender, é necessário aceitar não saber. O que acontece quando se entra em uma sala de exposição e tudo que se vê são duas cordas finas de lã de cerca de meio centímetro de diâmetro, saindo o teto, em formato de U se cruzando e outras, verticais nas beiradas? Já não podemos circular livremente, somos tolhidos, as linhas causam uma delimitação do espaço da sala que é palpável, mais sólidas do que sua flexibilidade permitiria supor. É como se repentinamente o artista nos transformasse em perus, aves que podemos manter presas em um círculo traçado no chão. E assim é realizada uma máxima transformação do espaço, com um mínimo de substância. Esta distorção, é nossa mente, que é enganada.  E como confiamos na nossa mente racional! Chegamos a achar que é tudo que somos! Arte neste caso, nos auxilia na construção de um espaço diferenciado de percepção.

 Mais freqüentemente na arte moderna, o que se faz é uma descontrução. Edifícios são transformados em superposição de linhas verticais e planos; o dentro e o fora dos objetos são alterados. Além disto,nota-se em muitos trabalhos uma tentativa de quebrar a seqüência temporal ou a causa e efeito. Consegue-se este efeito com longas seqüências de vídeo, nas quais uma coisa sucede à outra, até que se dissolve, sem o grande acontecimento que todos aguardaram. Ou simplesmente alguém faz alguma coisa e não vemos propósito algum naquilo. Estamos muito acostumados que tudo tem de ter uma finalidade e um sentido. Procuramos causa e efeito como se tudo as tivesse. Qual o sentido da repetição do mesmo? Nossa sociedade é especializada atualmente na produção do mesmo e do descartável. Isto por um lado cria a enormidade e por outro, a banalidade. Mais do mesmo é só quantidade, não há qualidade. Não há espaço interior, não há espaço mental, só há forma, imagem, exterior. Tudo se volta para o visual apenas, desfibrado de seu conteúdo, de sua utilidade. Não se compra algo por que se precisa ou por que se é útil, mas por causa de “eu quero”; “todo mundo tem” ou similar. Faz se necessário buscar passagens em si e nos outros, que nos permitam outros espaços e novos tempos, para escapar da mesmice. O questionamento do que parece ser e no entanto não é. A expansão de uma forma ou objeto, leva à sua transformação, virando outra coisa. É a polaridade Yin/Yang causando o movimento e a transformação, presente em tudo que é vivo. Estar vivo, eis a questão. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PSICOLOGIA DO SELF IV PARTE


1.       FALHA BÁSICA – é a falta de coesão nas estruturas do Self, devido a uma dissociação nos polos do Self, ocasionando instabilidade nos objetivos pessoais e falta de rumo na vida  A saúde consistiria em um equilíbrio entre o Self Grandioso e a Imago Parental Idealizada (que são os pólos do Self, também denominado Self Bipolar), possibilitando a expressão dos talentos, capacidades e habilidades nas relações Selfobjetais e nas atitudes pessoais durante a vida. (Para definição dos termos desconhecidos, procure neste blog os textos sobre Psicologia do Self)
2.      QUADROS CLINICOS COMUNS EM PACIENTES NARCÍSICOS –Todos os sintomas listados abaixo são devidos a dificuldades na constituição do self, que apresenta a falhas básicas em sua estabilidade. São problemas sexuais como perda ou excesso de desejo sexual ou fantasias perversas. Problemas sociais, inibições ou exibicionismo; incapacidade ou falta de satisfação profissional ou nos relacionamentos amorosos. Incapacidade de relaxar, repousar e dormir em paz. Perda de humor, mal humor, falta de empatia com outros, desrespeito, descontrole emocional, instabilidade nos relacionamentos. Mentiras, delitos, preocupações hipocondríacas ou vegetativas, automutilações. Incapacidade de lidar com dificuldades ou desilusões. Sentimento de vazio, falta de objetivo, desinteresse, falta de prazer. Conduta de risco, promiscuidade sexual. O corpo reflete a fragmentação do self através de incoordenação motora, movimentos desajeitados, andar trôpego, tom de voz, pois há uma íntima conexão entre o self corporal e self nuclear.
3.      PERTURBAÇÕES NARCISICAS DA CONDUTA – apresentam sintomas mas graves, que afetam profundamente o relacionamento com as pessoas, como é o caso das perversões, delinqüência e violência extrema, abusos de drogas, tentavas de suicídio, transtorno alimentar, etc. É a passagem ao ato através de comportamentos impulsivos ou compulsivos com dificuldades de neutralizar as pulsões agressivas ou libidinais que determina a gravidade, bem como as conseqüências sociais ou para si mesma. Nestes casos há um alto nível de autoagressividade, que não encontra dentro do self condições de metabolizá-la. Como também nos mostra Kohut, é uma forma de se sentir que esta vivo, quando se tem uma vivencia interior de self fragmentado e correndo o risco de destruição. Estes comportamentos graves seriam deformações do desejo de sentir-se vivo e tentativas desesperadas de não enlouquecer (fragmentação do self).
4.      O NARCISISMO segue uma linha de desenvolvimento independente da libido objetal. As neuroses podem ser uma forma da pessoa lidar com alterações narcísicas mal resolvidas, de acordo com a Psicologia do Self. Estados de fragmentação do Self são cobertos por estruturas defensivas ou compensatórias. Estrutura compensatória é quando um pólo do self é danificado e a criança tem uma segunda oportunidade desenvolvendo o outro pólo ou estabelecendo relações com outros selfobjetos (pessoas significativas). A obtenção desta estrutura está na categoria de saúde mental (resiliência).
As estruturas compensatórias podem ter matizes neuróticos, psicóticos ou perversos, em geral, com a características de ser transitórios, mutantes, variando muito de acordo com o momento, e não são fixos, como acontecem quando são estruturais. Estrutura defensiva é, por exemplo, quando uma personalidade esquizóide emprega o distanciamento emocional para regular a angustia, ou quando uma personalidade paranóide emprega a hostilidade ou a desconfiança para se protegerem da fragmentação do self.
5.      AS TRANFORMAÇÕES NO NARCISISMO– A evolução da linha de desenvolvimento do narcisismo nos conduz ao uso de nossas capacidades e ao estabelecimento de relacionamentos com pessoas significativas e à satisfação.  O self grandioso e o exibicionismo arcaico se incorporam às ambições e propósitos da personalidade, e há um sentimento positivo de sustentação em direção ao sucesso, através de atividades adaptadas à realidade e socialmente aceitáveis. (Este é o pólo das ambições do self bipolar). O poder do self grandioso e da imago parental idealizada, anteriormente formidável e dominante na vida interior da pessoa, (agindo muitas vezes como um torturador interno), não o é mais, e agora, tem um sentido de proporção realista do que é possível fazer, e o self se liberta deste domínio imperioso. A imago parental idealizada, assim suavizada, passa a ter um papel apoiador e sustentador no desenvolvimento dos objetivos e ideais da pessoa. (Polo dos Ideais do Self Bipolar)
6.      A IMAGO PARENTAL IDEALIZADA – é neutralizada e torna-se parte de uma função de canalizar impulsos do self. A psique tem capacidade de utilizar as funções controladoras do self, fortalecendo a crença da pessoa em suas habilidades, propiciando uma fonte de aprovação interna. Geralmente os pais daqueles que vem a sofrer distúrbios do self, são isolados de seus filhos, e pouco respondem às necessidades afetivas deles, ou demonstram interesse em participar de suas brincadeiras infantis. Em outras ocasiões, parecem ser íntimos, mas é enganoso, pois apenas usam a criança como selfobjeto para suas necessidades, e não em uma relação objetal verdadeira com seus filhos.
Por isto quero dizer, uma relação onde estes são vistos pelo que são por si mesmos,  reconhecendo as necessidades emocionais deles, sem ter de ser como os pais desejariam que estes fossem. Esta falta de empatia conduz estas crianças a uma privação emocional, e da sadia experiência de seu exibicionismo natural. A busca de aprovação é frustrada, assim como suas necessidades de idealização e relação com um objeto admirado e amado... Tudo isto redunda em um fracasso de internalização de estruturas sadias do self, que não se torna apto para lidar com as complexas questões que a vida apresenta a quem vive neste mundo.
7.      EMPATIA – é necessário que o analista tenha capacidade de usar a atitude empática, dependendo da tarefa analítica do momento. Não conseguir empatizar, ou empatizar em excesso são prejudiciais, pois o analista deve poder observar esta posição de observador/participante através de uma capacidade de auto observação do que acontece no campo analítico. Apesar do desejo de estar em contato com paciente o analista pode sentir-se dolorosamente invadido pelos estados mentais do paciente (devido ao perigo de indiferenciação), podendo levar a possibilidade de passagem ao ato (acting-out), ou seja, pelo medo de submissão ou dominação, que haja descargas sexuais ou agressivas. Isto é mais provável de ocorrer, paradoxalmente, à medida que o analista vai se tornando mais consciente que tem emoções e reage ao analisando, e este vai sentindo que a proximidade do analista como uma ameaça.