sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PSICOLOGIA DO SELF IV PARTE


1.       FALHA BÁSICA – é a falta de coesão nas estruturas do Self, devido a uma dissociação nos polos do Self, ocasionando instabilidade nos objetivos pessoais e falta de rumo na vida  A saúde consistiria em um equilíbrio entre o Self Grandioso e a Imago Parental Idealizada (que são os pólos do Self, também denominado Self Bipolar), possibilitando a expressão dos talentos, capacidades e habilidades nas relações Selfobjetais e nas atitudes pessoais durante a vida. (Para definição dos termos desconhecidos, procure neste blog os textos sobre Psicologia do Self)
2.      QUADROS CLINICOS COMUNS EM PACIENTES NARCÍSICOS –Todos os sintomas listados abaixo são devidos a dificuldades na constituição do self, que apresenta a falhas básicas em sua estabilidade. São problemas sexuais como perda ou excesso de desejo sexual ou fantasias perversas. Problemas sociais, inibições ou exibicionismo; incapacidade ou falta de satisfação profissional ou nos relacionamentos amorosos. Incapacidade de relaxar, repousar e dormir em paz. Perda de humor, mal humor, falta de empatia com outros, desrespeito, descontrole emocional, instabilidade nos relacionamentos. Mentiras, delitos, preocupações hipocondríacas ou vegetativas, automutilações. Incapacidade de lidar com dificuldades ou desilusões. Sentimento de vazio, falta de objetivo, desinteresse, falta de prazer. Conduta de risco, promiscuidade sexual. O corpo reflete a fragmentação do self através de incoordenação motora, movimentos desajeitados, andar trôpego, tom de voz, pois há uma íntima conexão entre o self corporal e self nuclear.
3.      PERTURBAÇÕES NARCISICAS DA CONDUTA – apresentam sintomas mas graves, que afetam profundamente o relacionamento com as pessoas, como é o caso das perversões, delinqüência e violência extrema, abusos de drogas, tentavas de suicídio, transtorno alimentar, etc. É a passagem ao ato através de comportamentos impulsivos ou compulsivos com dificuldades de neutralizar as pulsões agressivas ou libidinais que determina a gravidade, bem como as conseqüências sociais ou para si mesma. Nestes casos há um alto nível de autoagressividade, que não encontra dentro do self condições de metabolizá-la. Como também nos mostra Kohut, é uma forma de se sentir que esta vivo, quando se tem uma vivencia interior de self fragmentado e correndo o risco de destruição. Estes comportamentos graves seriam deformações do desejo de sentir-se vivo e tentativas desesperadas de não enlouquecer (fragmentação do self).
4.      O NARCISISMO segue uma linha de desenvolvimento independente da libido objetal. As neuroses podem ser uma forma da pessoa lidar com alterações narcísicas mal resolvidas, de acordo com a Psicologia do Self. Estados de fragmentação do Self são cobertos por estruturas defensivas ou compensatórias. Estrutura compensatória é quando um pólo do self é danificado e a criança tem uma segunda oportunidade desenvolvendo o outro pólo ou estabelecendo relações com outros selfobjetos (pessoas significativas). A obtenção desta estrutura está na categoria de saúde mental (resiliência).
As estruturas compensatórias podem ter matizes neuróticos, psicóticos ou perversos, em geral, com a características de ser transitórios, mutantes, variando muito de acordo com o momento, e não são fixos, como acontecem quando são estruturais. Estrutura defensiva é, por exemplo, quando uma personalidade esquizóide emprega o distanciamento emocional para regular a angustia, ou quando uma personalidade paranóide emprega a hostilidade ou a desconfiança para se protegerem da fragmentação do self.
5.      AS TRANFORMAÇÕES NO NARCISISMO– A evolução da linha de desenvolvimento do narcisismo nos conduz ao uso de nossas capacidades e ao estabelecimento de relacionamentos com pessoas significativas e à satisfação.  O self grandioso e o exibicionismo arcaico se incorporam às ambições e propósitos da personalidade, e há um sentimento positivo de sustentação em direção ao sucesso, através de atividades adaptadas à realidade e socialmente aceitáveis. (Este é o pólo das ambições do self bipolar). O poder do self grandioso e da imago parental idealizada, anteriormente formidável e dominante na vida interior da pessoa, (agindo muitas vezes como um torturador interno), não o é mais, e agora, tem um sentido de proporção realista do que é possível fazer, e o self se liberta deste domínio imperioso. A imago parental idealizada, assim suavizada, passa a ter um papel apoiador e sustentador no desenvolvimento dos objetivos e ideais da pessoa. (Polo dos Ideais do Self Bipolar)
6.      A IMAGO PARENTAL IDEALIZADA – é neutralizada e torna-se parte de uma função de canalizar impulsos do self. A psique tem capacidade de utilizar as funções controladoras do self, fortalecendo a crença da pessoa em suas habilidades, propiciando uma fonte de aprovação interna. Geralmente os pais daqueles que vem a sofrer distúrbios do self, são isolados de seus filhos, e pouco respondem às necessidades afetivas deles, ou demonstram interesse em participar de suas brincadeiras infantis. Em outras ocasiões, parecem ser íntimos, mas é enganoso, pois apenas usam a criança como selfobjeto para suas necessidades, e não em uma relação objetal verdadeira com seus filhos.
Por isto quero dizer, uma relação onde estes são vistos pelo que são por si mesmos,  reconhecendo as necessidades emocionais deles, sem ter de ser como os pais desejariam que estes fossem. Esta falta de empatia conduz estas crianças a uma privação emocional, e da sadia experiência de seu exibicionismo natural. A busca de aprovação é frustrada, assim como suas necessidades de idealização e relação com um objeto admirado e amado... Tudo isto redunda em um fracasso de internalização de estruturas sadias do self, que não se torna apto para lidar com as complexas questões que a vida apresenta a quem vive neste mundo.
7.      EMPATIA – é necessário que o analista tenha capacidade de usar a atitude empática, dependendo da tarefa analítica do momento. Não conseguir empatizar, ou empatizar em excesso são prejudiciais, pois o analista deve poder observar esta posição de observador/participante através de uma capacidade de auto observação do que acontece no campo analítico. Apesar do desejo de estar em contato com paciente o analista pode sentir-se dolorosamente invadido pelos estados mentais do paciente (devido ao perigo de indiferenciação), podendo levar a possibilidade de passagem ao ato (acting-out), ou seja, pelo medo de submissão ou dominação, que haja descargas sexuais ou agressivas. Isto é mais provável de ocorrer, paradoxalmente, à medida que o analista vai se tornando mais consciente que tem emoções e reage ao analisando, e este vai sentindo que a proximidade do analista como uma ameaça. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A EXPERIÊNCIA EMOCIONAL ORGANIZADORA


Como pode o analista auxiliar o processo mental de seu paciente? A função de mentalizar, alfabetizar, qualquer outro nome que demos à ao processo de simbolizar os fenômenos da vida quotidiana, torna-se um fulcro -um ponto- em torno do qual gira o mundo. Temos três mundos: o mundo real, que se manifesta nos fenômenos; o mundo imaginário, dos nossos sonhos; e o mundo simbólico, que representa estes outros dois e na verdade faz a comunicação, dá o sentido aos outros mundos. De alguma forma, vivemos no mundo simbólico, sentimos e até vivemos nas palavras...(esquecendo que elas são apenas o dedo que aponta para a lua, e não a lua, um indicativo do que ser quer dizer e não o que se quer representar, a coisa em si).
O analista oferece ao analisando um setting, que é simultaneamente presente nestes três universos. Mas a comunicação se dá pela via simbólica. Mesmo o gestual é dotado de um sentido ou um significado, pois a comunicação pode ser verbal ou não verbal. O mundo interno e o externo, o objetivo e subjetivo, o eu e o outro, se encontram através da comunicação verbal e gestual, emocional e racional, que auxiliam a organizar um significado. A substância de que a realidade é formada nos escapa. A chamamos de caos, inconsciente ou marasmo, quando nos falta a compreensão que possa abarcar a pletora de acontecimentos que superpõem em infinitas direções.
 Para tanto, decompomos e classificamos esta complexidade na tentativa de compreendê-la. Mas ela continua a nos escapar. E daí nasce a ansiedade. Desespero diante do desconhecido. Mas por que não prazer, diante das novidades? Na verdade, o ser humano depara-se sempre diante do desconhecido, do incontrolável, daquilo que o supera: -O existir no mundo, as forças da natureza, os outros seres humanos, com suas infindáveis exigências em relação a nós... As forças do mercado, os impostos a pagar, a incerteza quanto à própria condição, podem levar o homem ao desequilíbrio.
O homem nasce muito desamparado e necessita de cuidados pela vida afora, senão não sobrevive. Inicialmente fisicamente e depois psicologicamente, necessita de apoio. E no afã de encontrar este apoio, que o auxilie a vencer o desamparo e o sentimento de solidão, suporta as piores condições, quando não encontra selfobjetos empáticos. Este é o nascedouro das deformidades de personalidade e das perversões. O sadomasoquismo, a agressão, a violência, tanto causada como sofrida, aqui tem sua fonte primordial.
Precisamos oferecer ao homem um lugar onde possa sentir-se seguro. Amado, acolhido e confortável. Este é um espaço funcional, como vamos chamá-lo aqui. Um espaço que contenha em si a capacidade de colocar para funcionar a mente do homem por  garantir de alguma forma sua segurança diante do desamparo. O analista é o fiador deste espaço. Tudo que ele tem a oferecer é sua fé, no seu método e por acreditar na capacidade de desenvolvimento do ser humano. Isto porque é de fato um ser humano como qualquer outro, sujeito às mesmas desgraças que seu paciente está sujeito. Mas ele se oferece para ser usado de um modo especial, a ocupar um lugar que não é seu, até que seu paciente suporte o caos do real. Até que este consiga mentalizar e simbolizar por si, se apoiará e modelará no vínculo empático que mantém com o analista, que acredita na capacidade de pensar de seu paciente. Em outras palavras, um selfobjeto apoiador e adequado, que restaura os traumas das relações pertubadas do passado.
O espaço funcional é um espaço que se utiliza provisoriamente até se conquistar o espaço aberto do universo e do mundo, é um pequeno mundo protegido. É o espaço que os pais fornecem aos filhos, onde as crianças exploram o mundo nas proximidades da mãe, mas mantendo nela seu ponto de referencia. O problema é que este espaço é virtual e não real. O analista o mantém sendo um selfobjeto responsivo, fornecendo o setting analítico para que se monte o espaço funcional e assim os fenômenos entre analista e analisando permanecem protegidos da dura realidade.
 O problema principal é que esta entra sem ser chamada, e aí acontecem os problemas, inevitáveis, por que a frustração mostra ao paciente que não há proteção real contra a solidão e o desamparo da condição humana. E tampouco que seu analista é perfeito. O próprio analista denuncia ao paciente suas tramas e envolvimentos que visam a dependência ou o controle do setting/analista. O paciente quer se apegar como um bebe à sua mãe, que quer cuidados ao chorar, satisfazer suas necessidades com a mãe/analista. O apego se dá pela crença na incapacidade de pensar e não acreditar em si mesmo. P
Para pensar precisamos de organizar nossa mente. Precisamos ter uma experiência emocional organizadora. Necessitamos de que um ser humano possa nos propiciar um local de crescimento protegido onde se possa tolerar o impacto da realidade. Só assim em vez de buscar o apego/controle, se poderá buscar livremente a relação com outro ser humano. No lugar de dependência ou abuso, onde há destruição da capacidade de pensar independente, haverá uma empatia nas relações, onde será possível uma experiência emocional organizadora, que facilitará a tolerância á frustração e ao desamparo. Nestas circunstâncias, ocorre então a possibilidade de um funcionamento mental diante do mundo como ele é, o mundo onde se vive na ação e onde se aprende com a experiência criadora a ser realizado e feliz.

A IDENTIDADE


Para ter identidade é necessário pensar ou apenas expressar aquilo que se é? Mas tal propósito não se consegue através do mero estudo da teoria ou leitura de livros. A análise pessoal pode auxiliar tal propósito. É necessário que o indivíduo observe, ele mesmo, se sua essência se expressa na pratica da vida pessoal e funcional. É necessário trabalhar com um maior contato emocional consigo e com o meio ambiente do que o habitual para atingir este objetivo, pois para isto, são necessárias condições apropriadas, nem sempre disponíveis.
Vivemos em uma sociedade que está pressionando cada pessoa ao seu limite máximo. Temos no meio social violência e empobrecimento cada vez mais ameaçador. Problemas de desemprego e falta de educação e oportunidades atingem as massas humanas. Ao mesmo tempo, valores éticos e morais entram em colapso. Nestas difíceis circunstâncias, os valores humanos e familiares, os vínculos, sofrem grande desgaste. A necessidade de sobreviver embrutece a maior parte das pessoas. Isto ocorre, pois a correria, o stress, a pressão para produzir, levam as pessoas além do que é saudável.
Como se ter condições para ser feliz em uma sociedade onde as oportunidades são disputadas pela competição e não pela cooperação? Onde há limitações sociais e econômicas, a disputa por um lugar ao sol se torna uma questão de vida ou morte, prejudicando convívio com os amigos e familiares. A educação pessoal, a cada jornada, procurando contato com a cultura que nos rodeia, em seus aspectos sociais, culturais e científicos, sem esquecer empresas, clubes e associações, pode ser um meio de aproximar as pessoas de suas reais necessidades humanas: ser reconhecida, ser amada e respeitada pelas pessoas significativas em sua vida, criando condições de romper com o que afasta a pessoa de expressar livremente sua essência, de forma criativa no mundo que habita.

A SÍNDROME DE BURN-OUT


Esgotamento emocional. Frieza nos contatos interpessoais. Falta de realização pessoal. Perda dos ideais. Esgotamento. Depressão. Desamparo. Irritabilidade. Isolamento. Necessidade de psicofarmacos ou álcool. Estimulantes. Perda da criatividade. Insônia. Dor lombar. Dificuldades na empatia.
 Tudo isto, e mais sintomas similares aos de angústia e depressão, caracteriza o burn-out do profissional, aquele ponto que a mente já “queimou”, e já não consegue mais digerir as imagens que registra. Chegou-se a um ponto onde estão acontecendo mais coisas que se pode administrar. Os fantasmas, o lado escuro ou fraco assusta-se nestas horas é necessário procurar por algo que possa guiar o entendimento.
A imaginação pode ser o maior inimigo, produzindo imagens assustadoras, mas igualmente produzir imagens boas. A intuição, este dom tão esquecido, pode mostrar um caminho que a especulação e o raciocínio não mais conduz. No trabalho geralmente ocorre um distanciamento, já que se manter uma intimidade exige disponibilidade. E nestas horas, ser neutro, sem ser insensível, é complicado. As fronteiras das relações humanas, para não serem rompidas através da violência, exige manter uma capacidade de tolerar a frustração.
As pessoas vão, outros ficam; uns fazem o que você quer, outros, nem tanto. A questão do relacionamento ideal ou de como deveria ser se apresenta, bem como ter sucesso profissional, ou que o desempenho individual seja valorizado pelos colegas de trabalho. O ideal da instituição e versus o ideal pessoal. Ser um profissional não é um ponto de chegada, não pode ser uma meta de vida. Não é só chegar. O que conta é o caminho que ser percorre cotidianamente. É o olhar mirando adiante que mantém o rumo certo. Os projetos impelem à frente. Temos de continuar sonhando. A realização é continuar o percurso, e expandir para novos espaços. O prazer vem de colocar em pratica os sonhos, não apenas de sonhá-los.
A realidade é mais complicada que as teorias. Por este motivo, há sempre novas teorias, correspondentes a novas observações e percepções.  A primeira, refere ao mundo exterior, a segunda, a mundo subjetivo. Tenta-se ter a resposta para tudo, explicar o incompreensível de nós e dos outros. Há uma busca permanente de soluções. Há uma necessidade de soluções enorme, enquanto que a capacidade real de resolução humana é limitada. Daí se começa a imaginar, sonhar, delirar por um lado. Fetichizamos as metas, isto é as transformamos em fim de linha, ponto de chegada. E aí, frustração. Impotência e falta de prazer. Para ter um baixo risco de burn-out, necessitamos de ter metas reais de vida e de trabalho. Devemos voltar a ser gente e poder ser nós mesmos. Ser um eu (self) real, e não a pessoa ideal, ou corresponder a um ideal social, que usurpa o centro de vida da pessoa.