quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


A Bienal de São Paulo

  1. A arte precisa ser bela para ser arte?
  2. Fragmentar um texto termina com a perda do sentido. Não se encontra o significado da arte com analises. No entanto, como construir é uma possibilidade de se fazer arte, a desconstrução também é. (a respeito de uma obra na qual o autor agrupa as palavras de um texto de Camus, elaborando em forma de verbetes, como em um dicionário, e depois, vai além, agrupando letra a letra)
  3. O que determina que uma obra seja classificada como obra de arte? O que a oficializa como arte? Para mim, o que me auxilia a criar ou conectar com um espaço interior.
  4. O vazio torna o exterior, bem como os limites, mais perceptíveis. O enquadramento, bem como o material, determina o que pode ser exposto ou realizado.
  5. Mais do mesmo, variações do mesmo, o poder do possível igual. A identidade e a individualidade na diferença quase imperceptível. No meio de 1800 quadros semelhantes, se impõe não ver cada um individualmente, mas perceber o mecanismo que os gerou, ou a força de existência material deles.
  6. Se agimos, nos perdemos na ação e não vemos o ser. Para ver o que é, temos de parar. Ser observador, ser testemunha. A presença do ser melhor se nota quando não se tem ação. Tornar-se lento, é uma forma de poder melhor captar o ser; bem o contrario do que fazemos habitualmente:correr.
  7. Uma câmara mostra algo quase homogêneo que não conseguimos identificar bem: piso, teto, areia, chão...não se vê forma, mas percebemos que a câmara está se deslocando por pequenas alterações de textura. Então, depois de algum tempo, a câmara se levanta e vemos uma orla de mar, depois montanhas, e o céu...horizontes, nova perspectiva. Do fechado em si, para a liberdade.
  8.  No mundo inteiro há parquinhos de diversões. Um artista fotografou 167 deles por países de todos os continentes. É universal, transcende línguas, raças, culturas, riqueza e pobreza com sua singeleza e simplicidade. O que há de comum? O movimento corporal. Todos nós temos um corpo e deslocar este corpo causa prazer. Escorregador, assim como tobogã, é gostoso!
  9. Domínios de conhecimento são gerados pela união de teorias e suas articulações. Nós escolhemos, nós construímos as imagens e crenças que vão compor nossa vida.
  10. Para saber onde queremos ir temos de saber de onde saímos e para onde vamos. Precisamos de mapas que nos guiem, para que não nos percamos.
  11. O que é o mundo? Natureza, minerais, vegetais e animais. Homem: organizar a infância, compor a própria historia, classificar as crenças. De tudo fazemos coleções. (Até mesmo guardamos tranqueiras que não servem para nada.)

Apreciação de uma Bienal do Mercosul

Em 2007, tive um renovado interesse por arte moderna. Tive a oportunidade de ir à Bienal do Mercosul. Proponho-me neste espaço tentar repartir com vocês o que lá aconteceu. A arte é simultaneamente comunicação e realização. Quando não podemos resolver algo no mundo das formas concretas ou na vida pessoal, o caminho de arte é uma possibilidade. É uma espécie de substituição do que poderia ser. Mais vai além da mera probabilidade; o mundo do imaginário e do símbolo, irrompe nas obras de arte. O sonho, a imaginação do artista,  arrasta consigo para outro espaço e tempo, o seu público. Sempre olhando as paredes, não vemos o teto. Vivemos nos espaços circunscritos das casas e locais de trabalho, na rotina. Qual é a surpresa, quando entramos em uma sala “vazia” e nada lá  acontece...ateé que nos damos conta, (se não sairmos frustrados e apressados antes) ao ver que a obra a ser observada, não está  na parede, mas sim no teto! 
   
Há um mundo real, que é a natureza, e um mundo construído pelo homem, em dois níveis: religião, obras de arte e ciência no patamar mais elevado e os produtos da tecnologia: pontes, casas, prédios e celular. Inicialmente ao se entrar no recinto de uma exposição, há de se ter um tempo para caminhar. Não é ver o que está exposto e partir às pressas para a próxima sala.Há que se ir sentindo, vendo, dando tempo da mente ir juntando o sensorial e o emocional. Pode ser que surja alguma lembrança, que aquilo te traga algum sentimento ou pensamento à mente. Pode ser também que você não perceba nada, sinta nada. Não espere ver o que esperava ver. Antes de permitir que a obra entre dentro da sua mente, você não sabe o que vai ver. É comum se ficar perguntando: o que é isto? Tal questionamento necessita de um deixar a percepção ocorrer e suspender por um momento o processo mental.  Deixe espaço para a obra  poder te transmitir a mensagem oculta. O que ela transmite a você? Sentir em si mesmo neste momento, e ser receptivo, é o ponto a ser atingido. Isto por si só já configura um ganho de ir a uma exposição de arte, pois propicia este exercício tão necessário: entrar em contato com os próprios sentimentos, e a partir daí, a construção do pensamento. Simultaneamente tão simples e tão complexo. É um ponto de partida para as descobertas. Descobrir: ver o que estava coberto.

 Estamos tão envolvidos na luta pelo trabalho de todo dia que não vemos que  seguramos em nossas mãos a ponta da corda. Só vemos o novelo, o nó emaranhado. O nó é enorme, e o homem que segura a corda, pequenino. Vemos o nó e não vemos o homem. Esta obra foi exposta da forma que a descrevo: um minúsculo homem segura em suas mãos uma enorme e pesada corda. Estamos tão envolvidos com rotina que não vemos o por do sol. As câmeras ocultas em lojas, aeroportos mostram o movimento das pessoas. Um segurança vira sua câmera, já não mais para o que deveria vigiar, e sim para observar o por do sol. Claro, ele foi demitido, mas seu vídeo foi exposto, e é de uma beleza que toca fundo, principalmente quando ficamos sabendo o que estava acontecendo. Não era só uma foto de por de sol. Era alguém que ao por do sol, todos os dias, por uns minutos, lembra-se de algo maior que ele mesmo, de um ritmo da natureza do qual nos distanciamos tanto, que nem percebemos mais. Perdemos a sensibilidade. O que parece fácil, é difícil. O que parece longe, pode ser mais perto. Para ver, é preciso procurar. Para entender, é necessário aceitar não saber. O que acontece quando se entra em uma sala de exposição e tudo que se vê são duas cordas finas de lã de cerca de meio centímetro de diâmetro, saindo o teto, em formato de U se cruzando e outras, verticais nas beiradas? Já não podemos circular livremente, somos tolhidos, as linhas causam uma delimitação do espaço da sala que é palpável, mais sólidas do que sua flexibilidade permitiria supor. É como se repentinamente o artista nos transformasse em perus, aves que podemos manter presas em um círculo traçado no chão. E assim é realizada uma máxima transformação do espaço, com um mínimo de substância. Esta distorção, é nossa mente, que é enganada.  E como confiamos na nossa mente racional! Chegamos a achar que é tudo que somos! Arte neste caso, nos auxilia na construção de um espaço diferenciado de percepção.

 Mais freqüentemente na arte moderna, o que se faz é uma descontrução. Edifícios são transformados em superposição de linhas verticais e planos; o dentro e o fora dos objetos são alterados. Além disto,nota-se em muitos trabalhos uma tentativa de quebrar a seqüência temporal ou a causa e efeito. Consegue-se este efeito com longas seqüências de vídeo, nas quais uma coisa sucede à outra, até que se dissolve, sem o grande acontecimento que todos aguardaram. Ou simplesmente alguém faz alguma coisa e não vemos propósito algum naquilo. Estamos muito acostumados que tudo tem de ter uma finalidade e um sentido. Procuramos causa e efeito como se tudo as tivesse. Qual o sentido da repetição do mesmo? Nossa sociedade é especializada atualmente na produção do mesmo e do descartável. Isto por um lado cria a enormidade e por outro, a banalidade. Mais do mesmo é só quantidade, não há qualidade. Não há espaço interior, não há espaço mental, só há forma, imagem, exterior. Tudo se volta para o visual apenas, desfibrado de seu conteúdo, de sua utilidade. Não se compra algo por que se precisa ou por que se é útil, mas por causa de “eu quero”; “todo mundo tem” ou similar. Faz se necessário buscar passagens em si e nos outros, que nos permitam outros espaços e novos tempos, para escapar da mesmice. O questionamento do que parece ser e no entanto não é. A expansão de uma forma ou objeto, leva à sua transformação, virando outra coisa. É a polaridade Yin/Yang causando o movimento e a transformação, presente em tudo que é vivo. Estar vivo, eis a questão.