Crise não é catástrofe, isto é, uma situação de
destruição. Refere-se a uma situação onde há um conflito a respeito de qual
direção tomar. Todos nos temos de fazer escolhas a respeito de nossa identidade
sexual, nossa profissão e muito mais. Crise é esta encruzilhada, onde temos de
tomar uma decisão. Que responsabilidade, pois a diferentes resultados
chegaremos.
2.
Identidade refere-se a: identificações,
habilidades e capacidades, mais papéis sociais. É como se fosse um programa de
computador. Uma vez instalado, ele vai continuar funcionando daquela forma, até
que seja deletado. Nossa personalidade é
assim, ela tem uma persistência no tempo, na qual determinadas características
se repetem habitualmente. Inclui o que chamamos de personalidade. É um conceito
bifronte, pertencente à psicologia social. Temos por um lado o temperamento da
pessoa, sua constituição genética, com suas habilidades físicas e mentais, além
de suas capacidades. Tudo isto em grande parte é inato. Já o papel social é
determinado de acordo com a classe social, educação, sexo, casamento, filhos,
profissão, etc. articula-se com estes aspectos mencionados mecanismos de
identificação. Este mecanismo psicológico contribui para a modelagem de nossa
identidade através da incorporação de pessoas importantes. Por exemplo, os
canibais acreditavam que adquiriam a força de um guerreiro comendo-o. É
precisamente isto que ocorre na identificação, onde psicologicamente ingerimos
as características de pessoas admiradas em fases precoces de nossas vidas. Daí
a importância da mãe, do pai, dos irmãos e da família em geral.
3.
Crise ou confusão de Identidade refere-se
principalmente ao período que ocorre na adolescência. Porém podemos ter uma
crise de identidade em qualquer época de nossa vida. Não é uma entidade diagnostica, descreve um
distúrbio durante uma fase do desenvolvimento humano. Geralmente é uma situação
aguda, ou pelo menos seu inicio é agudo.
A pessoa esta exposta a fatores stressantes, a experiências que exigem dela
mais do que esta pronta para responsabilizar-se, seja por imaturidade, doença
ou fragilidade constitucional. Nestes momentos, podem sobrepor-se duvidas,
conflitos, sobre a identidade sexual, a escolha ocupacional, a função
psicossocial. Alem do mais, creio ser parte integrante da crise a dificuldade
da pessoa lidar com a angustia e o medo, geralmente associados à destruição do
senso de eu, ou do medo de enlouquecer. Duas dificuldades chamam a atenção: a
incapacidade de acalmar-se por si mesma, e a de ter intimidade ou estabilidade
em uma relação significativa com o outro. Está tão imersa em suas dificuldades,
que o outro só pode entrar como apoiador, em um papel materno ou paterno. Sintomas como ataques de ansiedade, pânico,
insônia, tonturas são os mais comuns. Fisicamente a pessoa se sente muito sem
forças, tensa. Psicologicamente regride a fases mais antigas do
desenvolvimento, voltando a querer atenção e cuidados, como se fosse uma
criança pequena. Na crise de identidade
as fronteiras do self se borram, e há medo de que os envolvimentos afetivos
sejam perigosos, (pelo receio de ser engolfado pelo outro). Eis um dilema:
precisar e temer o outro. Só, teme a destruição e necessita apoio externo
humano; junto teme ser dominado, subjugado, correr o risco de ser desintegrado.
Isto leva o jovem a um distanciamento das pessoas que poderiam apresentar o
risco de haver envolvimento. Daí, a agressão, como defesa do próprio eu. O Jovem quer aprender, ter um pai, um
professor, um modelo, geralmente idealizado, como são seus heróis(cantores,
artistas). Quer estar próximo a estas figuras e as copia, para identificar-se
com elas. Mas há uma sensibilidade à rejeição, ou medo, que leva ao
distanciamento fóbico, como uma forma de defesa. Faz parte ainda da crise uma
urgência temporal(quer tudo agora) Eis aqui o exemplo de um jovem magro, de
família de classe media, sente-se feio, tem baixa autoestima, e coloca como
valor Maximo o dinheiro. Passa então a exigir de seus pais que invistam 30 mil
reais para fazer uma distribuição de roupas, na qual se enriqueceriam. Isto é
abordado na terapia, a saber, o desejo de sobrepujar os penosos sentimentos de
inadequação e fraqueza, através da riqueza, sem ter de elaborar suas imagens
negativas e as imagos de seus fantasmas internos. Enquanto isto,ele falha em
fazer o que está ao seu alcance, por exemplo, ir à escola ou fazer esporte,
apresentando uma dificuldade de executar as tarefas reais que poderiam
auxiliar, desperdiçando suas energias em internet (dificuldade executiva).
4.
Com relação à identidade sexual, interessa
distinguir entre meninos e meninas diferentes formas de lidar com esta questão.
A menina tem uma vivencia corporal mais marcada que o menino, principalmente
pela vinda da menstruação, que coloca o corpo em evidencia, e todas as sensações
dolorosas que daí advém, com a possibilidade de engravidar, em um momento que a
mente ainda não está pronta. A consciência corporal da mulher leva-a a ter um
maior contato com as emoções, maior conexão com o tempo, advinda pelo ritmo
menstrual, e uma forma física de lidar com o stress. A dor da mulher é interna.
Daí a importância da aparência para a menina, que se baseia no uso do corpo
para ser aceita e amada. Já com o rapaz, acontece uma luta dirigida ao mundo
externo para provar seu valor. A dor do menino é uma dor de um mundo doloroso,
onde ele tem de conquistar seu valor para ser homem. Isto nos leva a refletir o
porque 80% dos usuários de droga são do sexo masculino. Para ser mulher de certa forma, é um dado pelo
seu corpo. Para ser um homem, não basta o corpo, é necessário uma conquista a
ser realizada no mundo.
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